sexta-feira, 13 de julho de 2012

Como amar...


Como amar...

Como o timbre nos toma. Ouvir novamente aqueles acordes me levou de novo a seu mundo. Eu não tinha mundo. Não compreendia o mundo antes daquele timbre. Parecia mais uma sinfonia cada dito seu. Eu que antes não havia me iniciado nesta arte, vivia feito um camponês na metrópole, assombrado e sem graça. Vivia feito um artista cindido de sua embriaguez. Qual folha que cai de uma árvore que nunca existiu. Junto de ti apareceu uma mundivisão. Enquanto meus olhos eram sem visão, seu timbre trouxe a eles aparição. Porque também era uma invenção intensa cada dito seu. Dizer que era sem fala, em silêncio já era o bastante. Todas as coisas também eram ditas quando a noite adormecia seu falar. Mesmo em sonhos eu podia sentir o quanto seu timbre era imenso. É claro que por essas noites eu ficara perdido como nau em meio a tempestade no mar. Procurava em vão um silvo. Me colocava em silêncio total para tentar ver algo de sua magia. Meus olhos não eram o bastante para ouvir seu sorriso. Todo aquele sentimento se sustentava pela ausência de possibilidades de captar a ti. Tinha só aquele timbre do dia em que me viste pela primeira vez. Dia que foi também o último. As horas ficaram tão pequeninas diante daquele encontro. As alterações dentro de mim não permitiam ver a hora. A hora não havia mais. Havia vida, um timbre e o fim. O fim do dia que antecedeu a ti. O fim do amanhã que não houvera de existir, sem ti. O mar imenso que foi seu timbre me tomou pelas mãos. Não mais comi. Nem respirei. Sono não há mais. Apenas há um dia, seu colo e seu olhar. Dentro deste dia, que foi um mundo, havia o mar. Mar de notas que formavam seu timbre, se tornavam história e me constituíam. As canções nos embalam à vida. As composições escrevem nossa história. A mim, bastou pouco. Bastou apenas ouvir seu tom. Deixar tudo pra trás e ouvir a ti. Sê-lo. Seu. Cindido de tudo e de todos. Só assim pude ouvi-la em sua epifania. Bela, doce e amiúde. Intensa ao mesmo tempo. Total e incompleta em mim. Escrita e composta feito arte. Diante daquele momento havia tudo. Não havia nada. Entre o tudo que havia e o nada que não havia. Nasceu rompante. Irrompeu de dentro dessa imensidão que habita entre o tudo e o nada o momento exato de seu nascimento. Seu timbre foi assim minha aurora. Nunca antes ouvida e ao mesmo tempo sempre cantada. Precisou apenas de um silêncio de prostração para que seu canto ressoasse. Ouvir é amar.

Bernardo G.B. Nogueira
Itabirito – inverno.

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