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domingo, 12 de maio de 2013

imundo



imundo

amanheço querendo o mundo
entardeço ao sol
com versos nas mãos
anoiteço cansado do mundo
fecho os olhos e olho pro mundo
abro as mãos e abraço o tempo
deito-me consigo e tenho o mundo
amar é mundo

outono
B.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

quantas horas?



quantas horas?

devia-se desnudar assim, logo cedo,
não carece esperar anoitecer,
o dia lhe pode trazer intempéries,
por isso, deixe cair o véu pela manhã,
no alvorecer é que se dão nascimentos,
esteja sob a luz refletida,
imponha teu seio contra o vento,
caminhe sólida e aérea, etérea,
prefira o não caminho, crie,
em meio à gente, cometa o crime
de invadir com olhos cálidos e versos,
não te faça concessões,
sempre o desnudar,
cedo, sem hesitação,
esqueça do tempo,
que não volta, não vai, nem será,
entregue a armadura,
ao meio do dia esteja exausta,
sonolenta, mire a tarde brotar entre o céu avermelhado,
quando a noite vem,
conte a ela que jê és pura,
magia de vida que viveu pela manhã,
nua feito a primeira rosa do deserto,
frágil como o arco-íris,
inevitável,
que só a manhã, criança, embalou e fez nascer...

Bernardo G.B. Nogueira
Conselheiro Lafaiete – verão, 2013.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

How does it feel...

How does it  feel...

Vamos comigo, lá pra onde eu vou,
lá onde está o nosso sol,
depois do raio que encerrou,
nosso encontro enquanto havia brisa.

Antes da tarde,
que é nosso amanhecer,
feito a verdade que morreu,
naquele resto de vida.

A morte do tom que nos criou,
a letra viva que foi nosso dom,
o beijo inscrito em meu coração.

Depois daquela obra,
foi arte nossa entonação,
os olhos de ti poesia:

                                   são em mim,
                                   pintura que molda,
                                   amolda minha face,
                                   sol e noite, explosão!

Bernardo G.B. Nogueira
BH – inverno.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Andança


Andança

Cheiro de mato. De todo aquele dia que foi quase noite restou o cheiro do mato. Havia uma figueira centenária, uma estrada com buracos e poeira. Pedaços da história do que virá. Como havia também pedaços da madeira que um dia já foi árvore, foi casa e é nada agora. A poeira encobria o caminho que era construído, a paisagem se confundia comigo. Meus olhos eram a natureza e a natureza era eu mesmo. Todos os pássaros que voavam sorriam para mim e informavam o rumo a ser encontrado.

Por cada vez que toquei aquele chão senti que uma nova vida brotava. Assim como em todas as partes daquele local a vida sussurrava aos nossos olhos. Dizia de uma canção que guiava nossos corpos para cima daquelas montanhas recheadas de sonhos. Recheio bom igual ao cheiro que partia do fogão movido a lenha. Fogão que também tinha uma história que se escrevia a cada estampido das lenhas queimadas. A lenha movia o fogo que esquentava a prosa e que trazia o café pronto.

Um menino cruzou nosso caminho com olhar que também tinha cor de mato. Ele riu, atravessou a estrada e se perdeu no mato que tinha a cor dos seus olhos. Acompanhava ele uma serenata de cigarras e sons de uma água que escorria pelo caminho que não sei se começava ou se acabava ali. Cruzamos o rio e deixamos o menino. Levamos seu riso e seu olhar. O mato ficou pra trás.

Ao subir a serra ficamos mais perto do sol e o quentume dele era igualzinho ao quentume que sentimos quando a avó abraça a gente. Abraço que também íamos dando na montanha ao subi-la. É uma maneira interessante de pensar os caminhos em volta das montanhas sentindo que a estamos abraçando. A relação fica mais gostosa, a viagem resta esquecida e depois é só amor com a montanha. Engraçado, por certo, ficar apaixonado por uma montanha, mas pior deve ser não amar nada nem ninguém. Fiquei apaixonado com aquela serra mesmo. Confesso.

Falando em amor, há também outra implicação nisso tudo. Eu não amei só a serra. Confesso. Assim que topei com o menino, eu acabei por me distrair e um regato que corria do outro lado da cerca me deixou apaixonado. Alimentava tudo ao seu redor e levava em seu corpo um pedaço novo de si mesmo. Não há como não se apaixonar por aquilo que cria em nosso coração um sentimento de leveza. Interrompi a caminhada e me entreguei àquele espelho d’água. Ficamos ali durante alguns minutos. O rio lindamente indiferente. Eu perdidamente apaixonado. Voltar ao caminho depois daquela relação de amor ficou mais real. Não trai a serra com o rio. Mesmo porque não me entendia cindido dele, nem dela.

Depois que a serra ficou pra trás o cheiro do café ficou mais intenso, e a chaminé que levava a fumaça branca embora, dizia que era hora de chegar. Chegar porque aqui ninguém avisa a hora. Porque não tem telefone. Menos ainda smartphone. Apeamos ao fim da tarde. O café estava à mesa. Tinham umas rosquinhas que o leite da vaca que estava ao meio da estrada havia fornecido. O riso do menino estava agora explicado. Ele sempre se servia ali naquela mesa. O rio ainda brandia lá fora dando continuidade ao seu curso infinito. Meus olhos se perderam adentro das palavras baixas que ebuliam de dentro da história da serra, do rio e da janela por onde todos os sonhos entravam em meus olhos. Janela que recebeu os raios do sol, as gotas do orvalho, a fumaça do fogão, e que recebia agora todo o cheiro que me criou, cheiro de vida, cheiro de mato.
Bernardo G.B. Nogueira
Inverno – Conselheiro Pena

Canção para ler o texto:
http://www.youtube.com/watch?v=O6CQsOI2qMg

sábado, 23 de junho de 2012

Me tomas


Me tomas

Não me canso de me encantar por ti,
pelo seu sabor e sua ausência,
fábula minha, sem paciência,
dor sentida pela carne que ri.

Salta aos mundos pela estrada de ti,
em caminhos se perde na floridão sem fim
das linhas esquecidas que me levam aqui,
pela frase sem fim que escreveste em mim.

Da tarde com sol te tomas em espelho,
furta sua face em esmero,
com mão acalentada te pinta por inteiro.

E como noite de sonhos,
pelo seu mar me afoga,
em olhos distantes e imensos,
cor de lua, que eternizou todos os momentos...

Bernardo G.B. Nogueira
Itabirito – inverno.


sexta-feira, 8 de junho de 2012

Tarde-manhã



Tarde-manhã

Tenho sempre que escrever coisas. Não sei bem o porquê disso. Das coisas e da escrita. Só sei mesmo é que são coisas e são palavras. Talvez seja mais uma tolice pensar no  que são ou poderiam ser palavras e coisas. Se se identificam, aparece outro mistério que não hei de descobrir nessa minha existência entre as letras e as coisas. Ah, e eu só não escrevi entre as palavras e as coisas para que as pessoas não pesassem que eu estava de alguma forma a querer me referir ao Michel Foucault. Não, definitivamente não seria correto pensarem isso de mim. Esse é outro enigma que se me aparece nessa tarde-manhã de outono. Que coisa mais bela são essas tardes que não se desgrudam das manhãs. Quiséramos nós que sempre fosse tarde-manhã e sempre também fosse esse outono que não sai de mim. Quando falo não sai de mim também não quero fazer alusão indireta à musica que fala de saudade.

Bom, sei bem que escrevo coisas em formas de palavras. Que é uma tarde-manhã da estação que mais gosto e que ficar sozinho é muito mais fácil que acompanhado, ao menos não precisamos dar palavras a ninguém e podemos escrever palavras sobre coisas. Mesmo sem saber o que são e o que hão de ser. Quanta coisa boa deixamos de aprender quando aprendemos. Essa coisa de saber o que são as coisas é coisa muito chata e que os adultos nunca deveriam fazer com as crianças. Quando elas não sabem, inventam, e os inúteis dos homens adultos ficam buscando palavras para dizer das coisas, e quando encontram as palavras ficam querendo saber o que seriam as coisas senão sinônimas das palavras que criaram para elas. Realmente é mais chato que eu poderia pensar essa coisa de entender.

Parece que quando queremos encontrar uma realidade que se torne passiva às nossas compreensões fica tudo mais difícil e também menos interessante. Se acaso as pessoas tentassem entender por que essas palavras e por que essas coisas, duvido muito que entenderiam qual o real motivo pelo qual escrevo. Inventariam uma teoria maravilhosa que conseguiria encontrar abstrações tamanhas que os faria a eles, ingenuamente, entender o que estava a figurar por trás da tal escrita, das palavras e das coisas. Advirto, não me estou a referir ao Foucault - e não que ele não seja uma pessoa a quem fosse interessante referir. Mas quero somente me referir a palavras e a coisas. Sem que o entendimento delas seja buscado e muito menos que essa possibilidade seja almejada. Quero só o infinito dos meus olhos que nem se atrevem a abrir as cortinas. Se abrisse a cortina todo esse mistério poderia se acabar e aí seria eu mais um adulto que sabe que não existe tarde-manhã e que se habitua ao relógio. Isso estaria diretamente ligado à minha impossibilidade de amar. Porque amar sem mistério é como irrigar jardins de pedras.

Daí que é esplêndido escrever sem estar comprometido com essas pessoas que sabem de tudo e cobram referências para o que escrevemos. Inclusive, as referências deveriam ser abolidas da escrita. E olha que me referi ao Michel Foucault. Mas o fiz para dizer que não estava me referindo. Como são bons os paradoxos. Aliás, esse é outro problema que enfrentamos. Não podemos ser paradoxais, sob pena de um diagnóstico bem referenciado de bipolaridade. Que coisa boa seria se as pessoas fossem menos unipolares como os pesquisadores que destrincham as ideias de um autor e sentem-se bem por isso. Sinceramente, dever-se-ia chamar a atenção dessas pessoas: Olhem! Respeitem os mortos! Criem! Mas talvez isso seja explicado para dizer que a história daqueles que se foram e pensaram deve alimentar nosso pensamento. Então, mais uma vez eu insistiria na subversão do furto. Furtaríamos a história deles e faríamos a nossa própria. Sem citações e sem referências. Talvez o mundo se tornasse mais novo se não houvesse tantas referências, sempre tão precisas, tão contextualizadas e tão bem colocadas. Essa bem colocância poderia ser trocada por uma inventância. O sentimento de saudade poderia passar a significar outra coisa se nos permitíssemos a isso. Desculpem, não quero usar meu texto para dar conselhos e inventar outra forma de falar das coisas. Se eu fizesse isso estaria me portando como os que citam, os que referenciam e se esquecem de esquecer e de inventar.

Sei que não abrirei a cortina. Não estou a me preocupar de nenhuma maneira com o entendimento do lance das palavras e das coisas. Menos ainda se é tolice ou não escrever apenas para dizer que não me importo. Importa a mim esquivar os olhos da luz e não procurar. Pois quem procura acha. E, eu, eu não estou a fim de encontrar. Que me saiba bem os desencontros e também os encontros. Com choros e sem eles também. Com todos os ingredientes que não fui eu que coloquei. Que sejamos achados e menos encontrados. Que em um dia em que não abrires a cortina, não fiques com receio por não teres sabido o que aconteceu. Isso por um motivo simples. Na verdade, não acontece nada. Só acontece se o seu coração for um cérebro e não um coração, porque quando o coração é coração, não acontece, não existe verdade e menos ainda mentira. A coisa que sai do coração não tem palavra não. E ela não se dá a isso também não. Por isso senhor adulto, gentileza não querer me explicar, eu não estou a fim de você e de seus saberes. Deixe-me aqui com meus sonhos e todas as minhas mentiras. Com todas as palavras que não sei o que são, com todas as coisas que não sei o que serão nesse dia que é tarde-manhã e no qual resolvi escrever para mim e não para o seu entendimento. Resolvi escrever porque dentro de mim tem um monte de mundos sem explicação, porque dentro de mim tem um coração. Mesmo que não exista o outro lado da cortina, o outro lado da retina ou uma tarde-manhã.

Bernardo G.B. Nogueira
Outono – tarde-manhã

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Não...

Não

Não se demore demais,
o sol pode não dormir,
a lua pode não parir,
o amanhecer pode ser no cais.

Não se demore demais,
a vida pode estar cantada,
o amanhã pode ser nada,
e o passado pode ser demais.

Não se demore muito,
o grito pode não ser ouvido,
a canção pode ser calada.

Não se demore demais,
a alma até pode morrer em paz,
mas o coração, em sua estrada, suspira e jaz.

Bernardo G.B. Nogueira
Buenos Aires

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Poeminha, em dias que se iniciam de tarde...

Hoje de tarde,

não queria o dia tão azul,
nem precisava de uma noite com tantas estrelas.
Os pardais poderiam se dispor de sua sinfonia,
e as nuvens no céu, disformes se dariam.

não queria um som tão afinado,
a mim bastava tocar o chão molhado,
no recanto de minh’alma,
eu, e minha mágoa, be e mol, e mais nada.

os olhares deveriam ser desviados,
o rosto inerte já seria meu resguardo.
O vento frio que chega daquela fresta entre os prédios, seria ele meu regato,
choro de criança, choro soluçado.

poderia ser menos que ontem,
um amanhã de silêncio por entre um presente tão animado,
de resto, poderíamos decidir pelo abraço,
escolher um silêncio e um sorriso não forçado.

poderia ser sempre,
sempre amor e sempre paz,
sempre sorriso e sempre abraço,
sem céus e sem sons, sempre um olhar leve e encantado.

Bernardo G.B. Nogueira 11/09/2011 – Conselheiro Lafaiete