terça-feira, 27 de novembro de 2012

Amor, revolução

Amor, revolução
 
Demais é rabiscar livros com heresias sentimentais,
derrubar estados e construir arco-íris,
transpor  imagens, só ver miragens,
carregar no peito nada além do que sentiu,
trazer uma mala cheia de estórias,
inventá-las sempre que puder,
deixar escorrer pela pele toda a efusão,
do encontro tornar vida e morte,
na estação mirar o próximo porto,
descansar com os ouvidos ao som inaudito,
ferver no gelo do corpo devastado,
inverter a direção do mapa, só pra ver onde não vai dar,
de mãos dadas seguir com o algoz,
zombar dos deuses, adorar o humano,
com flauta doce, receber o inimigo,
desconfiar da razão, entregar-se cândido ao abismo da emoção,  
que o que vem seja anunciação, e o que vai, saudade,
a ausência, criação,
olhares novos, perfeição,
ao invés do verbo, poeisa e canção,
pois sentimento, se é sentimento mesmo, tem que ter heresia, senão é convenção...
 
Bernardo G.B. Nogueira
Itabirito – primavera - 2012

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Lá na selva


Lá na selva

 É que preciso tanto de um encontro com você, mas só se quiser fugir durante o dia para algum lugar em que exista um restinho de sol e um cheiro de mato que possa proteger nossos olhares das coisas que não são iguais a eles, seria lindo. Eu só queria falar de poesia com você. Falar que seus olhos são liberdade e poesia, e que são portas abertas pro mundo nascer e adormecer. Pois eu gosto só de falar o que sinto, pois sabes né menina, você eu gosto demais que fico até calado. E agora que estou escrevendo um poema pra você é que fica mais bonito ainda falar, pois quando falamos para a causa de nosso amor sobre o amor que ela faz crescer, ai que é bom demais. Então, se eu continuar gostando assim de você, eu acho que vou escrever muita poesia ainda, mas tem que me prometer que vai continuar lendo que gosto de você, pra eu poder continuar escrevendo e também continuar gostando. É assim mesmo, parece um endoidamento que a gente sente quando fica escrevendo estas coisas e sentido elas junto do escrito. Porque nem sei se estas coisas nascem das palavras que escrevo sobre elas ou se é mesmo dos seus olhos sem fim que nascem essas coisas. Sei só que fico até com o dedo cansado de tanto escrever quando sinto estas coisas, pois o coração fica em um ritmo de batuque da Bahia e meus olhos ficam perdidos em serenidade de montanha de Minas Gerais. É um tantão de miragens que ficam vivendo juntas aqui, ahh, se as palavras não fossem tão poucas. Se as gramáticas fossem reinventadas talvez eu pudesse te escrever essas endoidescências que estão aqui. Porque o mais bonito é que fica tudo parecendo um cenário, só pra fazer passar esse sentimento. Uma ala inteira de fantasias inventadas querendo dizer o que seria esse sentir. Mas na selva em que desfila essa distração não dá pra ter medida não. Por isso que anda pela selva mesmo. Calado de fala que é sempre usada e falante pro silêncio que até faz a gente chorar quando lembra. Porque o choro desse endoidar também é bom. Lava a gente e faz brotar um novo broto. Semente de amor que povoa a imaginação. Igual na manhã em que resolvi olhar pra janela distraído. Vi seus olhos a jorrar um cândido mel que levou toda minha razão. E agora fico ai convidando você pra passear na selva, lá onde eu acho que de novo tem aquela janela, com o mesmo cheiro que seu coração contou pra mim o dia em que nasci pra você...

Bernardo G.B. Nogueira
Itabirito – 2012.

sábado, 17 de novembro de 2012

pra quê não criar?



pra quê não criar?

Só bastaria que você visse a metafísica,
toda a soma das curvas enganadas em que me perdi,
desse a mão à noite que me carrega,
e como cavalo selvagem bailasse em meu peito,
depois da valsa tranqüila que fez o feito,
conquista de campos ultrapassados,
igual àquela canção que ninguém mais ouve.
Restaria sua voz em meu colo só,
pra fazer do outono cinza um arrebol,
isso tudo apenas pra me ver
no arco-íris de seu sorriso,
pra em um choro triste escorrer a noite,
e na manhã seguinte,
verso sem rima de um amor que nasceu,
pois amar é ver o que não tem,
só pra criar,
ciranda de menino que te fez maior que todos campos,
um amor que é vento rodado pelo moinho do que você compôs...

Bernardo G.B. Nogueira
Conselheiro Lafaiete     

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Estaçõezinhas...



Estaçõezinhas...

E é assim, lhe convido pois é já o sol,
depois de um outono sem folhas,
com sorriso cor de nuvem,
pra fazer nascer a primavera,
que é irmã sua,
pelo cheiro e pela face,
com cores sem fim,
depois me dá um abraço,
vai embora e canta como o vento leve,
dedica seus passos a me deixar saudade,
cada vez que seu olhar foi embora o verão cerrou-se em chuva,
o céu cinzento chorou,
volte, volte flor minha!          
Posto que és toda estação em que desço e em que vives, flor!

Bernardo G.B. Nogueira
Conselheiro Lafaiete – primavera – 2012.                                        

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

o que é poesia?



o que é poesia?

meu problema é sempre o próximo verso,
ela, o trem o horário, o salario e o resto,
minha noite acende a vida, balanço incerto,
a dela é calma que escuto até o barulho de seu sonho inquieto,
meus dias são  cansados de tanto sonhar,
os dela corridos feito flerte de menina juvenil,
passo pelas ruas a cantar,
ela corre tanto que nem escuta a brisa,
acordo tarde e não vejo a manha,
parece que ela também não,
eu porque durmo,
ela porque não sonha,
minha questão é de ordem metafísica,
ela questiona qual a data da próxima missa,
corro pra não perder mais um por-de-sol,
vejo seu carro fechar os vidros e esperar o verde no sinal,
na madrugada quero um tango,
ela se vira e fala do transito,
deixo o cigarro queimar e finjo um sono,
ela reclama da fumaça e fecha os olhos,
deixo um escrito na porta da geladeira,
escuto dela que acabou coisa na dispensa,
bebo um gole e canto sem tom,
ela diz que não aguenta, vai morar no exterior,
eu pergunto se poesia rima com casa vazia?

Bernardo G.B. Nogueira
Conselheiro Lafaiete - primavera

e o que é viver?



e o que é viver?

é visível sem mesmo saber,
é factível mesmo sem parecer,
é vivível até se chover,
é sofrível se não querer,
é de mato se se esconder,
é desacato se não reconhecer,
é tão grande que parece desprender,
é distante da lua e faz renascer,
é perto da vida, canta pra amanhecer,
é longe da lida,
linda e perdida,
manso é seu sofrer,
perto da nuvem,
faz cantiga pra minha noite esclarecer,
de amor e nada, só pra não morrer...

Bernardo G.B. Nogueira
Primavera – Conselheiro Lafaiete