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sexta-feira, 26 de julho de 2013

depois de sonhar



depois de sonhar

já sinto seu beijo,
batendo as portas do céu,
namorando as nuvens que me trazem sombra,
fazendo barulho de trovão em minh’alma,
trazendo a chuva pra regar meu calor,
brotando luz pelas retinas enamoradas,
de sua onda que quebra em meu corpo,
levando minhas mãos por um breve desatino,
de bravio som feito flauta dos elfos,
que cantam rock pelo sensível torpor que me embala,
levando meu lábio ao infinito,
como a vista que traz o mar,
vomo a sombra que é seu corpo
sobre o meu que agora é sopro,
de um nascimento que foi primavera,
que agora insiste em balançar minha vela,
de navegador perdido
do rio seu,
de quimera...

B.

quinta-feira, 14 de março de 2013

pra onde se vai?



pra onde se vai?

pois
que é tanta chuva,
que cada gota parece um pedaço de vida que cai,
cada oscilar é um acorde,
é  música de vida que desce correndo,
pela ladeira de mim, longe,
pra dentro,
fora de sintonia,
só pra depois virar rio em seu encanto e tormento,
sem margem,
como o amor,
sem paragem...

B.
BH – verão - 2013.


domingo, 3 de março de 2013

latinoamérica



latinoamérica

de quantos céus se faz o sonho?
com quantos deuses o amor?
por quantas línguas a verdade?
pelas paisagens arredias, qual a estrada?
em quantas estórias?
por quais frestas de cabanas os amores?
em quantos pés descalços o açoite?
por quantas almas dizimadas a luta?
em meio às faces esquecidas, qual não escuta?
em todas os dias feitos noite, qual a cor escrava?
depois do inverno maldito, porque não vês no verão todas as cores?
em qual corpo esta a escrita?
qual a margem do rio foi poluida?
qual rumo da história mal escrita?
qual o rumor da política infanticida?
em qual guerra a terra restou prometida?
qual sua chuva?
qual o seu sol?
qual seu solo?
qual seu vento?
quais as suas nuvens?
e seu calor?
qual a sua felicidade?
de onde nasce?
sentes dor?

não há infinito maior que o céu, nem que o sonho,
o amor é deus e só,
o olhar são os modos de falar,
o trajeto nasce do andar,
nossos sulcos na pele são mapas astrais,
as luas cobrem nossas noites de fantasias,
fugimos com o sonho na mão, pra andar mesmo sem os pés,
das mortes sentimos as forças que nos levam adiante,
as falas antigas são nossas cantigas, leis e alegrias,
depois das chuvas sempre planta-se o novo pão,
nascemos de toda a terra, por isso um monte de invenção,
sem dizer do certo ou de uma maneira de engenhar a criação,
não há outro lado ou este de cá, apenas um mundo envolto por coisas desiguais,
se um dia a peleia é envolvida em armadilhas de alma maldita, a cura vem da chuva, fecunda,
não há nenhuma regra estabelecida, cada variedade é uma só maravilha,
chuva sem dono,
sol pra fazer amor,
solo pra cravar história,
vento pra abanar o engano,
nuvens pra inventar outro mundo,
calor pra brotar a vida,
felicidade de ver várias e uma só em todos,
nascimento é dor,
dor pra viver, sem deixar pra trás nenhuma cor!

Bernardo G.B. Nogueira
Conselheiro Lafaiete – verão - 2013

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

tom



tom

para um outro tempo
levaste a poesia e o sol,
com chuvas infintas molhaste o solo de meu leito,
regaço seco qual sertão sem sonho,
da noite em que calaste,
as notas esvoaçaram pra outras paragens,
nenhum tom saboreou minh’alma,
bailarinas dançaram em sonata de despedida,
tarde e noite se misturaram em fantasia,
e o crepúsculo despertou o sonho,
naquela manhã de sinfonia íngrime,
ausentou a flauta doce,
além dos montes um frio devagar assoviou,
era canto do dia em que seu olhar, como pétala, voou...

B.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

do que não sei

do que não sei

do que não sei é da chuva,
que não para,
que insiste em tilintar ali fora,
que tem pingos próprios,
que corre,
que molha o telhado ao lado,
do que não sei é da chuva,
que tem uma pitadinha de sal, igual a lágrima,
e que não volta atrás,
que cai sempre nova,
que floresce,
que inunda,
que depois tem arco-íris,
mas antes, trovão,
e essa chuva,
que é samba no verão,
mas que é fado também,
ela muda as estações,
brota um novo fruto e se vai,
se volta não se sabe,
sabe só que foi choro e canção,
de noite ou a tardinha,
da chuva que nasceu em seus olhos, infinitos,
deles, sei também não...

Bernardo G.B. Nogueira
Conselheiro Lafaiete

sábado, 16 de junho de 2012

Um café?


Um café?

Hoje bebo um café que acabo de fazer. Mas talvez fosse ainda melhor beber do café que eu mesmo houvera de plantar. Desde a escolha do grão até a espera para o dia certo da colheita. Fazer aragem da terra e cultivar cada momento daquele pé de café que me vai dar o que beber dentro em pouco. É como tomar as rédeas e não entregar pra ninguém. Se o café for amargo, falhei no plantio, se for leve, cumpri bem a labuta. Depois dessa forma de me acorrentar a mim, nunca mais poderia pedir socorro. Parece que é uma forma de suicídio lento ou de renascimento constante essa a de preparar o próprio café.

De alguma forma pensei que poderia estar com esses grãos e essa terra em minhas mãos. Depois tomar o café. Antes colher e sentir o cheiro. Mas vem sempre uma garoa ou outra. Sempre há um algo ou um porém. Porém, por causa disso, um café ruim fica bom e o café bom pode também ficar ruim. De certa forma essa deve ser a graça de estar com essas rédeas nas mãos. Ora, mesmo sob a máxima atenção e carinho não se pode prever o que vem. Aquela chuva que pode ser a salvação da lavoura e ao mesmo tempo pode ser a arma que aflige de morte a plantação. Todas essas formas variáveis de acontecimento roubam nossas rédeas. Toda a exatidão de cada cova desce feito nada com a lama da chuva que não perdoa nem o plantador mais cuidadoso. Assim como o sereno não respeita quando chega e quer queimar. Aí é o fim, o início ou a invenção.

Inclusive, é interessante como mais uma vez e sempre os paradoxos estão a nos rodear. Ao mesmo tempo em que o sereno molha, queima. Ao mesmo tempo em que a água da correnteza bravia molha, cria uma secura que impede a vida. Vida que nasceu da água que irriga a planta e que depois volta para matá-la, sem dó, imprecisa e precisa ao mesmo tempo. O paradoxo sempre cria. Porque nasce a vida do encontro entre seres distintos. Mesmo que um dia a filosofia antiga nos ensinara que já existiram como um só. Ainda assim, só nasce do desencontro, o encontro. Da secura, a lágrima. Do papel em branco, o poema. Do fim da estrada, a invenção. E acho que agora que terminei a xícara entendi o motivo pelo qual esse café, que é como tantos outros, igual e diferente, me trouxe até aqui. Quase sempre um café vem acompanhado de uma prosa. A prosa por sua vez é normalmente estabelecida entre duas ou mais pessoas. Mas não significa que não podemos prosear sozinhos ou beber café sozinho. Pode sim.

Quando pensei na possibilidade de manter o controle fui ingênuo como quem não acredita no amor. Essa sensação aparece por conta de uma solidão e um medo do passo que temos que dar em direção ao outro. Não há uma existência sem ele. E, ademais, o cheiro do café só tem sentido por causa de um olhar que vem à mente quando somos interpelados pelo seu aroma. Ou quando o paladar ativa uma memória guardada entre as vicissitudes de cada dia. Nesse sentido é que aquelas rédeas que queremos ter à mão na verdade não nos estão oferecidas. O plantio pode até ser cuidadosamente acompanhado por amor e carinho. Mas o evento café não está nem de longe passivo e entregue a estas tentativas de antecipações. Somos sempre surpreendidos pelo outro que vem. Pelo que é maior que nós, exatamente do tamanho daquilo que não podemos prever. Ao contrário da dose que pode ser medida, a embriaguez com que somos acometidos não cabe na xícara, tampouco pode ser prevista aquando do plantio.

Um café é um momento de possíveis nascimentos. Esse momento a mim foi revelado nesta tarde de outono. Fui lavrador, plantei, irriguei e colhi. Cheguei até a escolher os grãos e os moer e torrar. O café estava em mim desde o nascimento até a morte. Sempre em primeira pessoa realizei esse ritual de criação. De fundação de um novo momento, de um novo gosto. Cada gole foi uma história contada. Cada partícula daquele cheiro formava em mim uma sensação desconhecida e que não fora prevista quando comecei o plantio e quando terminei o café. Meus poros foram reinaugurados. Meus olhos se surpreenderam. Essa surpresa é da mesma ordem do encontro. E aí que o café se ajunta ao novo encontro. Somos tomados pela novidade do outro. Somos embevecidos de seu olhar, tomados por seu aroma, furtados de nós enquanto nos perdemos em sua imensidão. Que é infinita, imprecisa e imprevisível, e que é, portanto, linda e apaixonante. Pois o outro pode ser um sol radiante que faz a plantação viver, pode ser a chuva forte que leva embora todo o plantio, pode ser o sereno que queima a lavoura, pode ser uma a boca insossa que não se sensibiliza pelo sentimento do café. Estamos sempre à mercê desse outro que nos forma, nos realiza, ama e odeia. Não posso escolher o gosto que o café me trará, pois não posso escolher os olhos aos quais me irei apaixonar. Sei que dessa tarde ficou o gosto de um café infinito. Os raios do sol que entram pela janela e aquecem meu corpo e o sentimento de constante possibilidade pelo outro que virá, sem pedir licença, sem bater à porta e sem avisar. Pois quando é amor é assim mesmo, quando percebemos, estamos enamorados, igual ao café, quando percebemos, a xícara já se esvaziou.

Bernardo G.B. Nogueira
Outono – Conselheiro Lafaiete.