Doação
Ao acordar amava-te mais,
mais e sempre, estranho e mais,
desnudo e crente,
pele, carne e mais.
Depois do sonho tornaste manhã,
em meus poros de criança, maçã,
Pura e mistério, proibida,
minha e estranha, cativa.
Doaste em sonho, um parir,
viveste o encanto, partir,
Em tom silente, foste em mim,
mais bela que o dia em que nasceste
nas notas turvas do porvir,
sua pose infinita, crua, ao longe,
de perto, me fez sorrir.
GB Nogueira – Ponte Nova, outono.
SEI QUE DESPERTEI e que ainda durmo. O meu corpo antigo,
ResponderExcluirmoído de eu viver, diz-me que é muito cedo ainda. . . Sinto-me
febril de longe. Peso-me não sei por quê. ..
Num torpor lúcido, pesadamente incorpóreo, estagno, entre
um sono e a vigília, num sonho que é uma sombra de sonhar.
Minha atenção bóia entre dois mundos e vê cegamente a profundeza
de um mar e a profundeza de um céu; e estas profundezas
interpenetram-me, misturam-se, e eu não sei onde estou nem oque sonho.
O Eu profundo e os outros eus.
Fernando Pessoa