sexta-feira, 1 de junho de 2012

Doação


Doação

Ao acordar amava-te mais,
mais e sempre, estranho e mais,
desnudo e crente,
pele, carne e mais.

Depois do sonho tornaste manhã,
em meus poros de criança, maçã,

Pura e mistério, proibida,
minha e estranha, cativa.

Doaste em sonho, um parir,
viveste o encanto, partir,

Em tom silente, foste em mim,
mais bela que o dia em que nasceste
nas notas turvas do porvir,
sua pose infinita, crua, ao longe,

de perto, me fez sorrir.

GB Nogueira – Ponte Nova, outono.

Um comentário:

  1. SEI QUE DESPERTEI e que ainda durmo. O meu corpo antigo,
    moído de eu viver, diz-me que é muito cedo ainda. . . Sinto-me
    febril de longe. Peso-me não sei por quê. ..
    Num torpor lúcido, pesadamente incorpóreo, estagno, entre
    um sono e a vigília, num sonho que é uma sombra de sonhar.
    Minha atenção bóia entre dois mundos e vê cegamente a profundeza
    de um mar e a profundeza de um céu; e estas profundezas
    interpenetram-me, misturam-se, e eu não sei onde estou nem oque sonho.
    O Eu profundo e os outros eus.
    Fernando Pessoa

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