Fantasia
Não adiantou os desvios dos olhares,
das mãos estreitas e dos afares,
deslizes entre humanidades,
amores crentes nos sabores inventados, qual face pintada por artífices do palco.
Tragédia encenada pela máscara que não restou,
partiu em cacos que se perderam na chuva que passou,
ao fim do arco-íris a curva que não se encontra
com o ritmo e descompasso da retina sua que me dera intesidade e verdade.
Antes que houvesse seus olhares,
não haviam mais meus traços fantasiosos,
que foram eu e que é nós dois.
Outono - Itabirito
GB Nogueira
Este blog tem como objetivo a publicação, criação e discussão d'lgumas ideias e sonhos...ideias poéticas, filosóficas, romanescas, musicais, teatrais, cinematográficas, artísticas...e de vez em quando, jurídicas...
segunda-feira, 28 de maio de 2012
terça-feira, 15 de maio de 2012
Do lado de quê?
Do lado de quê?
Contra o explícito
o verídico
e o fatídico,
contra o machismo,
o revanchismo
e o chauvinismo,
contra o correto,
o sempre ereto
e o que não é incerto,
contra a reta,
sempre certa,
parcimoniosa e
discreta,
contra a tendência,
a essência
e toda a
coerência,
contra o esforço,
o excesso do
gozo,
mentiroso e que é
forçoso,
contra a gramática,
do macho,
não máquina.
pelo amor,
pelo poeta,
pelo erro,
pela mulher,
talvez o homem.
GB Nogueira
Outono –
Itabirito 2012.
Local:
Itabirito - MG, Brasil
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Enquanto isso, fora do espelho...
Enquanto isso, fora do espelho...
Há um conto do escritor argentino
Jorge Luís Borges em que ele narra a relação do mundo dos homens com o mundo do
espelho. Diz Borges em seu conto que em um tempo muito distante, as criaturas
do espelho viviam em paz com os humanos, entrava-se e saia-se do espelho sem
problemas. Contudo, em uma noite, as criaturas do espelho invadiram a terra e
mesmo que seus poderes fossem manifestamente fortes, o Imperador Amarelo
conseguiu vencer as criaturas especulares e lançou um feitiço que as condenou a
uma vida presa às formas dos humanos e que as obrigava a repetir tudo que estes
fizessem. Mas Borges advertia, um dia as criaturas especulares insurgiriam do fundo
dos espelhos e se rebelariam contra os humanos. É, sem dúvida, um conto
intrigante que pode ser lido sob vários aspectos.
A democracia, conceito criado
pelos gregos antigos, recebe hoje os maiores louros enquanto forma de condução
política de um país. É uma ideia solidificada no imaginário dos cidadãos. Ideia
que se coloca como garantidora de um tratamento isonômico em relação aos
indivíduos dentro do estado. Por óbvio, isso não pode ser visto sem cuidado,
sem um olhar crítico. Ora, o fechar de olhos dos cidadãos deixa a polis órfã e
mina com qualquer possibilidade de manutenção e realização dos direitos
fundamentais que alicerçam a democracia e que devem ser garantidos a todos
indistintamente. Essa atenção à práxis da cidade, leia-se, à vida política, é
uma forma do homem se reconhecer enquanto tal, pois, como nos adverte
Aristóteles, o homem é um zoon politikon. Quer dizer o filósofo, que o homem só
se considera enquanto tal, quando participa da polis, quando é cidadão.
Frise-se, essa democracia realizada no momento do voto não é nem de longe o
bastante para dizer que temos todos os princípios democráticos realizados. É o
voto, um dos momentos da democracia, não o único, menos ainda o derradeiro. A
perpetuação da democracia se dá quando a imagem do espelho não destoa da imagem
do mundo dos humanos.
A relação de quem é votado com
quem vota, sustém a ideia de democracia, ou seja, essa relação serve para dizer
se há uma democracia real ou uma democracia especular. Partirei nesse momento
para o objetivo deste texto.
Vivemos em tempos em que algumas
criaturas dos espelhos estão a se rebelar contra os Imperadores Amarelos. Desde
o movimento de ocupação de Wall Street, manifestações de estudantes em Bogotá,
levantes em uma França discriminadora e racista, até à evidenciação de que o
capitalismo financeiro é um “modo de vida” excludente e opressor - todos estes indícios
de que os povos do espelho não mais se contentam com a maneira inerte e disforme
que lhes é imposta. Nesse sentido, parece que o feitiço da democracia especular
anda a ser dissipado por uma nuvem de verdade que ronda a caverna de Platão. Quando
me refiro à democracia especular, estou a dizer que por vezes a forma de
atuação dos representantes se dá na medida do feitiço que o Imperador Amarelo
lançou sobre os povos do espelho. Manuseiam suas armas para instalar a inércia
e o silêncio, e furtar a vida mesma dos cidadãos. Querem-nos assemelhados a
imagens, apenas a refletir – interessante o uso que esse termo pode possuir -
absortos pelo seu feitiço, enquanto passeiam, se equilibrando com a ajuda do
seu exército, que tenta garantir que nunca serão incomodados e/ou ter sua
legitimidade - obtida nas urnas - colocada em questão. Em uma imagem sugerida
por Zizek, enquanto nos colocamos em frente à tela do cinema e nos entretemos
com uma realidade criada e facilitada pelo 3D, por trás da tela há uma festa
bacante da qual não somos convidados, mas que estamos a patrocinar.
E como se tudo fosse mesmo real, me
deparo com o dia doze de maio do ano de dois mil e doze. Dentre outras coisas,
essa data já estava a me tocar, uma vez que um dia antes fora meu aniversário
de vinte e nove anos. E como não mais estou a morar em Conselheiro Lafaiete,
nem pude comemorar meu aniversário com minha família que se radica aqui. Mas,
já nos diz a canção, “aos vinte e nove, com retorno de Saturno, decidi começar
a viver”. Portanto, meu primeiro dia com esta ideia de vinte e nove parece
também ter sido o dia de nascimento de vários outros cidadãos, e mais ainda, da
saída definitiva do espelho de algumas criaturas que estavam lá.
A passeata contra a corrupção em
Conselheiro Lafaiete é uma mostra aos Imperadores Amarelos, que nós sabemos que
por trás da tela do cinema há uma realidade que não chega até o grande público.
É uma forma de os cidadãos lafaietenses se portarem de maneira autêntica
perante sua existência, e firmar-se como cidadãos, como zoon politikon. Tornarem-se
pessoas a partir do que diz Aristóteles. No entanto, aqui não é o momento para
tentar descarar os desmandos realizados por detrás da tela. Mas é o momento de
enviar um aviso aos humanos de fora do espelho:
As criaturas do espelho estão
aqui, e que elas não sejam subjulgadas. As tropas dos Imperadores Amarelos hão
de ser vencidas pela ação dos seres do espelho que, ademais, no conto de
Borges, serão ajudados pelas criaturas das águas e vencerão os humanos. Assim,
para os humanos que não entendem o que são as criaturas do espelho e as
criaturas das águas, devem agora se acostumar a uma nova forma de vida. Uma
existência que não seja mesquinha, inerte, aproveitadora e individualista, pois,
unir-se contra os Imperadores Amarelos, é, desde já, uma forma de parir um novo
espécime ainda desconhecido porque há muito adormecido dentro do espelho.
Adormecido e amordaçado pelos Imperadores Amarelos.
Doze de maio de dois mil e doze.
Data para marcar uma parturiência coletiva em Conselheiro Lafaiete. Dia em que
novos cidadãos nasceram. Dia em que a democracia especular deu lugar à
democracia real. Dia em que a tela do cinema foi derrubada e as criaturas que
viviam lá atrás ficaram receosas de se verem expostas. Dia em que “o rei ficou
nu”. Dia em que Conselheiro Lafaiete pode marcar como uma nova emancipação,
pois foi nessa data que “aprendemos a viver”, porque foi nesta data que o povo
do espelho deixou de ser imagem e tornou-se a cena viva da cidade.
Bernardo G.B. Nogueira
Conselheiro Lafaiete
outono – 12/05/2012
sexta-feira, 11 de maio de 2012
condenação
condenação
Então há uma denúncia
a ser feita,
dos pés até o último
fio de pretensão,
de toda a verdade
que é em vão,
sobre todas as
falas e caras feias.
Não é um grito
com o pé no chão,
nem dá para dizer
que é reclamação,
por um momento se
quis até silêncio,
depois não há
mais jeito, é incêndio.
Daí que nasce uma
canção,
lá onde começa o
dia,
lá onde morre a
entonação,
brota um raio
leve, de prostração.
Sob a mira não
feita do coração,
notas sem
harmonia, é paixão,
coloco-te agora
defronte a ti,
desnudo de todo
verbo, de toda maldição,
cala-te! ou
condeno-te à imaginação.
GB Nogueira -
outono
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Itabirito - MG, Brasil
sexta-feira, 4 de maio de 2012
Nem sempre
Nem sempre
É pena não estar
ali,
cobri de querer o
jardim
e deixei o cheiro
para ti,
uma mão estendida
assim.
De um lado havia
pássaros,
em volta do
banco, jasmim,
enquanto
esperava, flauta,
doce verniz em
tarde e cantos,
Simples feito
de esperança,
olhar de criança
enquanto dança,
cada minuto era
presença,
mas choveu,
depois dos pingos,
não mais eu,
rastros do jardim,
restos de mim,
Aceno de mãos
esguio,
beijos desditos,
corpos perdidos
desfez o mito
Pedi a morte,
só restava o
jardim.
GB Nogueira –
outono – Ponte Nova
quinta-feira, 3 de maio de 2012
aurora
aurora
pura e crença,
iminência,
dos olhos de ti,
das frestas de
mim,
para um vale sem
fim,
se esvai em tom,
ausência da voz,
fragrância em
pétalas,
e vento que
distrai a noite,
vivência
de ninfas
intensas,
em balé de cor,
de sempre dizer
da flor,
acalenta a seu
jeito,
rebenta,
por romper o som,
silência,
toda cor, todo o
bom,
inventa.
GB
Nogueira
Belo Horizonte –
outono, 2012.
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