quarta-feira, 8 de junho de 2011

Qualquer estação, o amor não...

É mesmo impossível não reconhecer a leveza das manhãs outonais. Elas carregam um silêncio ensolarado com raios que não ardem e uma brisa que também não corta. É um momento raro dentro de nossa vida tão pouco natural, reparar como estas manhãs têm um silêncio que tanto nos diz. Diz de um novo momento que esses raios solares nos dão. Diz de algo diferente que os olhos parecem captar com o coração. Traz com esse som harmônico as melhores notas a embalar sentimentos mansos e límpidos.

Parece mesmo, que o fato de as rosas não desabrocharem aqui como acolá, fazer com que o orvalho que serena por cima das folhas marrons fique mais evidente e a relva que nem é mais tão verde, acabe por se tornar.

As miragens das manhãs outonais não são ofuscadas pelo sol bravio do verão e menos ainda pelo ar acinzentado do inverno. Em suas veredas, que em verdade d’lma são alamedas de imensa inspiração, desemboca um caudaloso regato d’onde desabrocha os mais férteis e risonhos rasgos no rosto de quem as experimenta.

A poesia é então convidada a se deixar entretecer neste mar de sentimentos que é a manhã de outono. Se no inverno buscamos nos aquecer, no verão, arrefecer, e a primavera, princesa de todas as estações, mesmo ela, sucumbe ao arranjo outonal. Sentimos, leve, a brisa do inverno, também leve, o sol do verão, e o cheiro das flores primaveris, esse, realmente, não é sentido, mas o cheiro do outono é como se todos os cheiros estivessem fundidos nesta manhã, basta se deixar e ir...

Mas é claro, todos esses sentimentos não são apenas criações naturais das belezas que estar em uma manhã de outono dentre montanhas permite.

O seu olhar acabou por se misturar com a paisagem inaugural com que esta manhã acaba de nos brindar. O amor que saía de seu sorriso fez o sol parecer mais próximo e o céu anil, azul, azul, foi testemunha de que seus abraços traziam o quentume que min’alma sempre carecera, mesmo que não fosse inverno.

O dia em que chegaste, fora uma manhã de outono. Manhã destas comuns, com traços de inverno, alguns toques de verão, e uma inveja eterna do cheiro das rosas. Mas naquela manhã, que por acaso era de outono, você chegou, e agora, todas as manhãs quero-nas outonais. A estação, ah!, sei não, pode até ser outra, o que não dá mesmo, é para esquecer o dia em que você apareceu sorrateiramente – em qualquer estação -dentro de minha vida, levou meus olhos pelo seu caminho, minha boca pelo seu gosto, e deixou a cada passo seu, um cheiro que é o rastro que perssigo desde então, desde o outono, até o verão...

Bernardo G.B. Nogueira

outono – Itabirito - 2011

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