Mostrando postagens com marcador cheiro. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador cheiro. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 26 de julho de 2013

ida e vinda



ida e vinda

venha me visitar,
assim, com vagar sem horas,
depois que se escoder o último sol,
não se vá,
esteja leve como a brisa da manhã
e depois que o sol não esquentar,
abrace a noite que será nossa,
como também é a flor que não nasceu,
mas que veio trazer o cheiro de ti,
pois que nasceu de seus olhos essa pétala,
pra cair em mim feito verso,
qual a última madrugada que sonhei,
vendo seu barulho emudecer meu dia,
quando amar, não chore,
venha me visitar...

B.

Cruzar o Cheiro



Cruzar o cheiro

Dobrou a esquina e logo aquele cheiro bom a brindar a novidação da noite que se abriu naquela virada. Logo foi necessário ficar demorando ali para sentir direitinho o cheiro que vinha de lá. Era aquela árvore que dá cheiro de noite. “Dama da noite”. Como é forte seu odor. Parece moça nova quando sai de meninice pra moça. De dia vai pra noite. De menina pra fazer meninos ficarem parados em esquinas só pra admirar.

Depois que a menina vira moça é um vai e vem danado. Por ela passam tantos olhares e querências. Desejosos daquela curva. Desejosos daquele cheiro. De noite apenas. Durante o dia é muita correria, nem sente o cheiro. Mas a noite a moça acorda. Caminha devagarinho por entre as ruas e fica ali na esquina que é só dela. Sei não se ri ou se chora. Sei que cheira. Sei que é aurora.

Porque moça é também uma mudança. É um tanto de árvore fresca que nem flor dá ainda. E também tem curva de árvore frondosa, que faz sombra e que tem tronco forte. Dá cheiro e dá medo. Na copa da árvore na esquina daquela moça é que habitavam aqueles cheiros. Cheiros que desciam pelas suas folhas, namorando os galhos, gozavam pelos poros das flores. Flor é cheiro. E dessa moça o cheiro é de flor. De noite. Moça da noite. Que alguns chamam também de dama.

Os cheiros são mesmo os caminhos que fazem perder. Sabe-se de onde vem, nunca onde vão dar. Igual ao amor, igual aos rios que saem do curso. Como essa noite em que saia um cheiro da árvore parada ali na esquina. Aí sempre se quer arrancar uma flor de lá pra sentir o cheiro de seu líquido gozoso e cheiroso. Porque amor também tem cheiro. Igual flor. Amor e flor ai se misturam em igualação. Moça, árvore e esquina dão cheiro que vai desembocar em amor. Cada vez que se ama, na verdade, se vai doando o cheiro, até que aquele que é amado sinta, encontre. Dai quando sente é só perdição. Porque é assim mesmo. Os cheiros não se dão em retas, precisam das curvas pra sentir com surpresa. Amor, cheiro e surpresa são quase sinônimos, de flor e de moça também. Porque moça é metade de plantinha e metade de árvore. E amor é metade de sorriso e metade de lágrima, senão não tem cheiro, senão não tem esquina, ai sem espantação é que não é amor mesmo.

Ficar parado ali olhando aquela imaginação. De árvore, moça, cheiro, amor e esquina. Nenhuma relação menos desapercebida do que ficar olhando pra imaginação. Porque ela é inventada e pode ser só uma paisagem mentirosa, e pode ser tão falsa como não ter na vida nenhuma contradição.

Desenhar, tirar foto ou escrever canção ou poema, talvez sejam boa solução. Pra imagem da flor em desencanto a chorar com cheiro de noite. Ou pra entender da curva da moça que fez o menino sem direção. O amor mesmo nem dava pra querer decifrar. Quando encontrava o fio, o novelo de novo se embolava em outra esquina. Começar de novo a estória é coisa que se faz todo dia que uma esquina leva seus olhos e faz criar imaginação. Na próxima vez que encontrar com esse cheiro vou dizer a ele de toda essa diversão: Do amor, da flor, da esquina, do gole de cheiro, do perfume da moça, da árvore que é dama, das folhas que não são nada, da rua deserta, que em paralelas não se encontram, que os meninos choram e que aquela árvore de onde sai o cheiro dorme o dia inteiro, que ela espera só e à noite, pra ficar fazer voar seu cheiro, e fazer encantados todos os olhos que sentem seu convite pro amor. Porque só com cheiro se cria amação. Na esquina...

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Chuva infinita

Chuva infinita

Não é simples ouvir o mundo em versos,
em uma hora se cala e em outro, universo.
De um lado o campo, para sempre silvestre,
arroubos de sonhos e rimas agrestes.

Uma rua cheirosa e um olhar inerte,
lugares novos e palavras em cor,
romance em traços e estrofes doces,
um beijo lançado, ar, cheiro, agridoce.

Torpor entre os passos, visadas sem traços,
caminhada perene, gole, vinho, embaraço.
De tanto poema, barulho e cansaço,
descanso na chuva, imensa, meu infinito regaço.

Bernardo G.B. Nogueira