terça-feira, 21 de junho de 2011

E agora que o outono se foi...que o inverno "saiba cuidar de nós..."

Talvez

Talvez você não se lembre,
você não tenha coragem...
você não seja imperfeita,
você não escreva, não diga...
você não encontre perguntas.

Talvez eu não me lembre,
eu não tenha coragem...
eu não seja imperfeito,
eu não escreva, não diga...
eu não encontre perguntas.

Talvez...
nós tenhamos que construir...para lembrarmos,
nós nos tornemos heróis destemidos,
para nós, a imperfeição seja essa busca,
nós estejamos já escritos, o dizer, é fato,
nós não devamos mais perguntar...

Talvez não, juntos..."

Bernardo G.B. Nogueira

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Para viver um grande amor

Do momento que antecede...

"...antes
antes que me diga algo,
tento lhe roubar mais um suspiro,
antes que seja minha,
tento lhe roubar mais um sorriso,
antes que olhe para o lado,
tento lhe trazer mais um quadro,
antes que não me escute mais,
tento lhe escrever uma canção,
antes que o mar nos afaste,
tento lhe construir um navio,
antes que sua boca não fale a mim,
tento lhe furtar mais um beijo,
antes que não leia esse poema,
tento lhe escrever que amo você..."

Bernardo G.B. Nogueira
Itabirito, em um outono inspirador e necessário como a poesia..."para viver um grande amor..."

terça-feira, 14 de junho de 2011

Não vivo, inspiro-me...

vida perdida...

e assim, de tanto poetar,
acabei da vida a me desvencilhar,
criei um mar, e por lá fui navegar,
com versos, todos eles para lho desbravar...

e foi assim,
sem mais, nem menos.
Um bailar, ora, só me restava a mim poetizar,
e nisso estava a me alimentar...

e não vivia, enfim,
inspirava-me!
Ora ao mar, por vezes na brisa,
sempre em busca de seu perdido olhar...

Bernardo G. B. Nogueira Itabirito – outono – 2011.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Em homenagem ao aniversário de Pessoa...


Falar de Pessoa

Falar de Pessoa...

Falar de Pessoa é já se obrigar a não falar dele mesmo. É admitir falar de outro sabendo que o outro é ele, e assim, igual. Saber que em um se encontram mil, mas saber que esse mil, é já, um só. Um só que se admite entre aqueles vários, que se cria em diversos, e encontra nos outros o traço fundamental de si, ser um, a constituir todos, portanto, sempre a ser mais, e maior.

O fingimento da existência é natural a quem se dá às criações, e mais ainda(!), a quem de sua vida faz ela mesma sua maior obra de arte. Seja em prosa, seja em verso, fica maior a cada “penada” que é dada, a cada rascunhar de si, refletido na ausência de um corpo que é só criação, invenção, portanto. Alienar sua existência na escrita, mas ao mesmo tempo criá-la...sempre!

E a imaginar, de tanto imaginar (!), um só não dá mais para sustentar tanto dizer que sai dali. É preciso o outro para que a imaginação não fique paralisada naquele primeiro pensamento que surgiu daquele primeiro um. É no outro que a imaginação faz florir sua semente, é por ali que ela se vai completar, mesmo que não se acabe, mesmo que sem cessar...

Daí, depois que imagino, já não há mais como controlar...agora já são pessoas e pessoas a me povoar, e preciso delas me libertar, preciso com elas partilhar, pois se não o fizer, fico com uma sensação angustiosa que se assemelha a um artista a interpretar sempre para o mesmo público, sempre com a mesma máscara.

Os sentimentos são tantos, que quando estou a criar nessa minha imaginação fingidora e fantasiosa, as pessoas acabam por se encontrar nesses meus devaneios, e me rio delas quando interpelam como conseguira a elas traduzir tão fielmente..? Ora pessoas!. Não há sentimentos quando estou a escrever ou a poetar, “simplesmente sinto
com a imaginação” e por não me prender a uma pessoa ou a um sentimento, é que acabo por transcender a mim e encontrar você. Por isso preciso de tantas pessoas a me auxiliar...

Mas eu preciso confessar uma cousa...

Tem sempre um momento nesses instantes de imaginação que algo me é ocultado. Pois, enquanto estou poeta e começo a fingir em meio a minhas criações, por vezes, acabo nelas a me perder. Poderia ser um instante de medo, por estar a perder as rédeas de minhas sensações - e a confundir vida e criação – e há não mais saber onde andaria o verdadeiro chão. Mas, não há medo, ora, a existência, aliás, como diria outro poeta também, está à altura do que posso enquanto pensar... ”numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo...” Daí, me deixo ir, ora em companhia de uma pessoa, ora de outra... “Sentir? Sinta quem lê...”

Ah! Já ia me esquecer! Essas pessoas nem existem. E agora me pego a lembrar de que há a necessidade da falta de algo para que ele possa então existir. Verdade! Essas pessoas não existem! Mas é claro! Se existissem, nem poderiam ter sido criadas, pois, quando o pensar se realiza, deixa mesmo de existir. E o poeta, quando realiza seus sentimentos, perde o sentido de seu perquirir. Por isso, pessoas são necessárias, não ao existir, mas enquanto possibilidades de inventar sentimentos ainda não descritos; para neles viver, para deles se nutrir e sobre eles escrever... mesmo que não existam, mesmo que sejam mentira ou fingimento, mesmo que sejam imaginações.

”Dizem que finjo ou minto tudo que escrevo. Não. O poeta é um fingidor.”

Bernardo G.B. Nogueira

Outono frio e real – Itabirito – 2011.


ISTO

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está de pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!

Fernando Pessoa

AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fernando Pessoa










quinta-feira, 9 de junho de 2011

Ao desaparecer

ao desaparecer,


deixe-me aqui,
com todo o calor que não se sente,
com toda a febre que me acomete,
com todo dissabor que me apreende,
com toda a tristeza que me acende,
com toda a verdade que para minhas lágrimas é nascente.

Deixe-me aqui,
a olhar p´ra trás, e não p´ra frente,
a me guiar pela poeira que um dia foi dormente,
a farejar nas brisas o que não se sente,
a tatear pela sombra o resto da luz estridente,
a mirar bem longe, porque de perto é evidente.

Deixe-me aqui,
pois já vai longe o trem de ontem,
pois já tem gosto de lembrança,
pois já faz rastro sua pujança,
pois já tem nome sua andança,
pois já é amor, que tem em si toda a esperança...

Bernardo G.B. Nogueira
Conselheiro Lafaiete – outono – 2011.

O existencialismo de “O velho e o moço”

Não é objetivo, nestas poucas palavras, transpor os conceitos filosóficos acerca do existencialismo – o que já se mostraria tarefa impossível! -, este ensaio, pretende, quando muito, fazer pequenas aproximações – filosóficas talvez(?) –, ao pensamento exposto na canção composta por Rodrigo Amarante nominada “O Velho e o Moço”.

A letra desta canção suscitou uma relação – que não foi buscada por uma interpretação em acordo com a vontade do compositor –, com o pensamento existencialista do tipo sartreano - “o homem não é mais do que o que ele faz” -, dado o caráter com que o autor marca a responsabilidade do indivíduo pela sua trajetória, em que, ao questionar-se sobre a possibilidade de um retorno ao passado já vivido, surge a questão intransigente do viver: quem eu seria(?), ou em melhores palavras, quem eu me tornaria se pudesse regressar ao passado?

Assim, se de alguma forma nos possibilitássemos o retorno ao passado, será que esse retorno seria possível a qual indivíduo precisamente:

I – Este sujeito presente, que questiona sobre a possibilidade de voltar a seu passado? II – Aquele que existiu no momento passado? III - Aquele que queríamos que fôssemos, mesmo que idealmente? IV – Aquele que pensamos que seríamos aquando daquele momento passado? V – Mas, se necessariamente e na verdade, não existimos, mas sim, co-existimos: como retornar ao nosso passado sem que os nossos convivas também regressassem? Seria mesmo assim, um retorno autêntico, aquele que não leva junto os outros? VI – E ainda, se consideramos a nossa existência temporal irrepetível: como admitir a idéia de um encontro com o mesmo passado? VII – Se estamos a fazer uma viagem de retorno ao passado, esta viagem não traria peculiaridades antes não vividas e assim, mudando mais uma vez aquele passado que pretendíamos alcançar...? Ora, como diria Carlos Cossio: “todo retorno em direção à etapa precedente aumenta o conhecimento por compreensão, levando-o mais adiante...”, ou ainda: “everything old is new again”.

As questões são imensas, e necessariamente o conhecimento de si passa pelo re-conhecimento do/no outro, portanto, as vivências que nos constituem estão a constituir os outros com quem partilhamos o mundo, nestes termos, seria no mínimo arrogante, requerer para si a possibilidade de um retorno para o “conserto” de questões intimamente consideradas erradas, ora, qual a garantia de que seu tropeço não ergueu outrem?

Podemos pensar a questão sob outro prisma: é do saber popular que “tudo tem um lado bom”, ou não é assim que ouvimos nos aconselharem? Se sim, qual o grau de precisão que um indivíduo possui, em sua subjetividade, para mensurar acerca dos erros e acertos de suas escolhas existenciais?

Jean Paul Sartre diz-nos de uma formação do homem a partir de sua existência, o que Heidegger chamaria de “ser-em”, ou seja, apenas a partir da existência com o outro é que nos permitiríamos ao existir mesmo. Nesse sentido, se na verdade não somos um infinitivo, mas sim, um gerúndio em nossa existência: qual a possibilidade de marcarmos os erros e acertos, ora, para que possamos adjetivar uma vida como correta, evidentemente que pelos erros passamos, mesmo que com a ilusão de não cometê-los.

O errar, portanto, torna-se um “existencial” necessário e peculiar ao ser humano, que por sua finitude no existir, necessita desse limite para reconhecer seus triunfos...ou como diria Paulo Freire, o errar é «um momento normal do processo gnosiológico»...

Lembremos rapidamente um diálogo do filme épico “Troia”, em que o guerreiro Aquiles fala acerca dos deuses em relação aos homens: “Os deuses nos invejam, porque somos mortais. A qualquer instante pode ser o nosso último momento”. Essa fala explicita com precisão o que estamos a tratar, ora, a falibilidade e finitude humanas são características que nos permitem existir enquanto tal... Assim, a idéia da possibilidade de um retorno nos colocaria como deuses, infalíveis e passíveis de controle sobre o futuro... que, quando muito, a nosso ver, deve ser entendido como projeto, assim como o homem o é, projeto seu que a cada escolha determina seu existir...

Assim acordados, esta canção parece enfatizar exatamente a necessária relação do homem com seu presente, que é um projetar-se para o futuro com influência de seu passado. De fato, o ser humano, a despeito das teoria lunáticas de “auto ajuda”, é um ser mais complexo do que aquele que deve apenas se ater ao seu presente; parece-nos que a grandiloquência do existir humano comporta todos os tempos verbais. Ora, para que não precisemos retornar ao impossível do passado, dediquemo-nos à construção do nosso projeto autêntico de existência, que perpetuar-se-á pelo futuro a que estamos lançados...pois, “o homem [...] está condenado a cada instante a inventar o homem”

Portanto, se almejarmos uma volta ao passado, esquecemos mesmo do presente e nem nos damos conta do futuro – retirando nossa possibilidade do novo, do único, do espanto, do amor inesperado, ou seja, nossa possibilidade de ser humano -, daí escutarmos esta questão multi-tempotal: “mas eu quem será?” e “quem então agora eu seria?”

Talvez o Chico Buarque, o Sivuca e as crianças resolvam mais este nosso problema com o tempo e com o nosso modus vivendi: “Agora eu «era» «herói»...”

Bernardo G.B. Nogueira - Itabirito - 23/02/2010

http://www.youtube.com/watch?v=RJfr7GUW52w

"O velho e o moço"

Composição : Rodrigo Amarante

Deixo tudo assim
Não me importo em ver a idade em mim,
Ouço o que convém
Eu gosto é do gasto.

Sei do incômodo e ela tem razão
Quando vem dizer, que eu preciso sim
De todo o cuidado

E se eu fosse o primeiro a voltar
Pra mudar o que eu fiz,
Quem então agora eu seria?

Ahh, tanto faz
Que o que não foi não é
Eu sei que ainda vou voltar...
Mas eu quem será?

Deixo tudo assim,
Não me acanho em ver
Vaidade em mim
Eu digo o que condiz.
Eu gosto é do estrago.

Sei do escândalo
E eles têm razão
Quando vêm dizer
Que eu não sei medir
Nem tempo e nem medo

E se eu for
O primeiro a prever
E poder desistir
Do que for dar errado?

Ahhh
Ora, se não sou eu
Quem mais vai decidir
O que é bom pra mim?
Dispenso a previsão!

Ah, se o que eu sou
É também o que eu escolhi ser
Aceito a condição

Vou levando assim
Que o acaso é amigo
Do meu coração
Quando fala comigo,
Quando eu sei ouvir...

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Qualquer estação, o amor não...

É mesmo impossível não reconhecer a leveza das manhãs outonais. Elas carregam um silêncio ensolarado com raios que não ardem e uma brisa que também não corta. É um momento raro dentro de nossa vida tão pouco natural, reparar como estas manhãs têm um silêncio que tanto nos diz. Diz de um novo momento que esses raios solares nos dão. Diz de algo diferente que os olhos parecem captar com o coração. Traz com esse som harmônico as melhores notas a embalar sentimentos mansos e límpidos.

Parece mesmo, que o fato de as rosas não desabrocharem aqui como acolá, fazer com que o orvalho que serena por cima das folhas marrons fique mais evidente e a relva que nem é mais tão verde, acabe por se tornar.

As miragens das manhãs outonais não são ofuscadas pelo sol bravio do verão e menos ainda pelo ar acinzentado do inverno. Em suas veredas, que em verdade d’lma são alamedas de imensa inspiração, desemboca um caudaloso regato d’onde desabrocha os mais férteis e risonhos rasgos no rosto de quem as experimenta.

A poesia é então convidada a se deixar entretecer neste mar de sentimentos que é a manhã de outono. Se no inverno buscamos nos aquecer, no verão, arrefecer, e a primavera, princesa de todas as estações, mesmo ela, sucumbe ao arranjo outonal. Sentimos, leve, a brisa do inverno, também leve, o sol do verão, e o cheiro das flores primaveris, esse, realmente, não é sentido, mas o cheiro do outono é como se todos os cheiros estivessem fundidos nesta manhã, basta se deixar e ir...

Mas é claro, todos esses sentimentos não são apenas criações naturais das belezas que estar em uma manhã de outono dentre montanhas permite.

O seu olhar acabou por se misturar com a paisagem inaugural com que esta manhã acaba de nos brindar. O amor que saía de seu sorriso fez o sol parecer mais próximo e o céu anil, azul, azul, foi testemunha de que seus abraços traziam o quentume que min’alma sempre carecera, mesmo que não fosse inverno.

O dia em que chegaste, fora uma manhã de outono. Manhã destas comuns, com traços de inverno, alguns toques de verão, e uma inveja eterna do cheiro das rosas. Mas naquela manhã, que por acaso era de outono, você chegou, e agora, todas as manhãs quero-nas outonais. A estação, ah!, sei não, pode até ser outra, o que não dá mesmo, é para esquecer o dia em que você apareceu sorrateiramente – em qualquer estação -dentro de minha vida, levou meus olhos pelo seu caminho, minha boca pelo seu gosto, e deixou a cada passo seu, um cheiro que é o rastro que perssigo desde então, desde o outono, até o verão...

Bernardo G.B. Nogueira

outono – Itabirito - 2011