segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Dizeres de solidariedade e reflexão aos professores em greve...

Teremos orgulho de dizer ao mundo que organizamos uma copa, mas teremos vergonha de dizer ao mundo que não organizamos nossa escola”

Cristovam Buarque

O descobrimento do Brasil

Não iria me pronunciar a respeito da greve de meus colegas professores. Por diversos motivos que vão desde o enfado que sinto das pessoas quando falamos algo diferente do que futebol, música rasteira, como diria Adorno, e/ou qualquer reclame de celebridades. Ou seja, parece que aquilo que retira as pessoas dessa massa amorfa, que retira as pessoas de seu conforto inerte, não interessa. Além disso, precisamos fazer uma mea culpa e dizer que existem profissionais que nem são dignos dessa greve, deveriam eles fazer greve eterna em relação à sua profissão, pois, não carregam em seu coração a chama que deve guiar quem se digna a chamar professor.

Contudo, e depois da fala de Cristovam Buarque, não poderia deixar de fazer coro a esse protesto. Realmente as pessoas parecem não perceber que o problema educacional é ele mesmo o início de muitos do males que nos assolam cotidianamente. Em uma entrevista deste personagem, a despeito de uma viagem sua à Irlanda, dizia que precisaria viajar, salvo melhor juízo, duzentos quilômetros de uma cidade a outra naquele país, bom, isso, no Brasil, poderia ser feito em duas ou três horas no máximo. Mas, no referido país, advertiram ao Senador que não seria interessante viajar, pois estavam já cansados de um dia de trabalho e que a viagem seria muito demorada. O Senador logo replicou: são apenas duzentos quilômetros, no entanto, as autoridades locais disseram que a estrada estava muito ruim e por isso deveriam ir apenas no outro dia. No mesmo instante o Senador então assevera: Com uma educação tão interessante como a de vocês, como têm estradas tão ruins? Daí o representante retrucou: “Exatamente por isso, precisamos investir em educação antes de investir nas estradas...”

Parece-me a mim que essa é uma clara mostra do momento em que vivemos em nosso país. A euforia com investimentos estrangeiros, a euforia com exportações exorbitantes do minério de ferro, a economia que chama os problemas mundiais de “marola” e por aí vai um sem fim de soluções imediatistas; bem à maneira massificada que não reflete sobre o existir. A sociedade de consumo agora quer a Copa do Mundo, e a questão educacional não é p’ra hoje, nem produz ibope na mídia. Mídia que para muitos se tornou o termômetro que aufere o grau de importância dos problemas. É interessante que quando viramos as costas para um problema desta monta, percebemos o quanto somos deseducados, ora, um país que não tem na ordem do dia o problema educacional, não pode ser chamado de outra coisa senão, mal educado, ou pior, por vezes nem mal nem bem educado, simplesmente, inconsciente disso, ignorante, portanto. É uma tautologia nossa existência: Somos deseducados pois não sabemos a importância da educação. Não sabemos a importância da educação por isso nos tornamos deseducados...

Poderia até fazer um discurso apologético, para satisfazer os marxistas mais revoltos, poderia dizer que o povo vai oprimido por isso, e que nesse desleixo com a educação pública, atua uma parafernália ideológica que quer manter o status quo. Assim, fazendo o povo negar a música dos Titãs, ou pior, nem entendê-la e cantar: “a gente quer só comida...”, o resto da canção não é acessível, mas não vou por esse lado, apesar de não desconhecê-lo. O problema é maior, e para que fique claro, inconstitucional. Esse descaso significa negar às pessoas aquilo que lhes é ínsito, sua possibilidade de ser projeto, uma rasa hermenêutica da tão proclamada dignidade da pessoa humana nos daria esse tom. Quando a educação não é o télos do Estado, ele está, em verdade, furtando ao ser humano aquilo que tem em seu gene, sua possibilidade, ademais, sem educação não percebemos que podemos ser mais do que aquilo que o programa do governo permite que sejamos, por isso não reivindicamos, por isso não nos preocupamos com a educação.

Meus colegas professores não estão a pedir nada demais. Em um refrão de outra banda brasileira, aliás, bem a propósito, nascida em Brasília, nos diz: “até quando esperar a plebe ajoelhar, esperando a ajuda de Deus...” Parece que devem mesmo levantar as mãos aos céus, mesmo àqueles que não têm fé, parece mais fácil um ateu rezar um pai-nosso que o Brasil perceber que os professores é que deveriam mover o país, que a partir deles deveriam vir as melhores ideias e ideais a serem defendidos pelas crianças e jovens, mas, com fome ninguém sequer raciocina, e é interessante perceber como nosso país se acostumou a pensar que o professor precisa apenas comer, pois o salário que chamam base, desculpem, não dá nem para sustentar a biblioteca do professor, quiçá, investir em seu aperfeiçoamento. Daí é a bola de neve que já é de sabedoria de todos. Aliás, todos não, pois se assim fosse revoltar-nos íamos contra isso e não deixaríamos aquele que nos ensinou os primeiros passos, cambiar ao ensinar as futuras gerações. Não esqueceríamos d"a professora Adélia, a tia Edilamar e a tia Esperança..."

Bom ,está dito, haveria muito mais por dizer, contudo, me solidarizo com meus colegas, legitimo as ações deles, mas convoco os pais dos alunos a também se unirem a isso. A educação não pode ser um meio para os pais se sentirem livres de seus filhos enquanto estão na escola, precisa ser o projeto de construção da criança e do jovem e assim, por consequência, dos pais. Portanto, pais, não entreguem seus filhos ao professor, ele ficará desamparado se isso ocorrer. Seja também um seu professor. O descaso com os professores é parecido com o descaso com uma plantação em seu início, os frutos e a vivacidade da árvore são consequência da forma como foi cultivada, nesse sentido, parece que nosso solo, tão fértil, caminha para a inanição.

Desde os gregos antigos sabemos que a educação é o que distingue uma polis que se queira digna. O esporte, também seria necessário para a formação do bom cidadão. O problema é inverter a questão. O problema é colocar isso tudo na frente da educação. Não precisamos formar 100% de intelectuais, mas precisamos ao menos garantir às pessoas a possibilidade de se entenderem no mundo e não apenas receberem o mundo. Isso é uma enorme diferença. Enquanto em países como a Colômbia os governantes saem à caça de Faculdades mercantilistas, no Brasil, percebemos cada vez mais um sucateamento do ensino, mas essa é outra história e não poderá ser explorada aqui. Com esse escrito quero apenas fazer como Boff e Buarque, que acreditam na educação e se colocam ao lado dos professores em greve. Coloco-me ao lado deles para que não precisemos pedir a Brasília que acorde do sono letárgico de sua caverna e ouça em bom volume aquilo que a Legião Urbana não cansa de sussurrar em nossos ouvidos e corações: “vamos comemorar como idiotas, a cada fevereiro e feriado (...) vamos celebrar a hipocrisia é a festa da torcida campeã!”

Bernardo G.B. Nogueira – Professor.

Conselheiro Lafaiete – na greve dos professores de 2011.

Perfeição - Legião Urbana:

http://www.youtube.com/watch?v=UueCjRrQLM4&ob=av2e

Fala do Senador BUARQUE:

http://www.youtube.com/watch?v=PaDoisjnZFA

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