terça-feira, 25 de outubro de 2011

Um diálogo em que tudo pode dar certo

Um diálogo em que tudo pode dar certo

Há apenas uma necessidade, meu amor,
não posso dar-te nada além,
por mais que minha ciência procure,
tenho só um barco desprendido do cais.

Existem até algumas teorias em nosso entorno,
mas a nota é uma só.
Outras tantas diferenças e vontades, manias e olhares,
mas as ruas não estão mais como antes, há um perfume.

Precisamos de um algo, de um afago.
Foi um sonho e dias a mais,
um meio trocado, e um fim inacabado.
Foi daí que brotou esse novo incerto.

Quanta previsão, quanta precisão.
Ah, foi por isso que nos mudamos...
Era essa verdade que nos aproximava,
mas foi ela mesma que nos desprendeu.

Primeiro um corte, intensamente forte,
depois, suave e como que natural.
É, há apenas uma necessidade.
Não percebê-la antes que ela apareça,

mesmo que ela apareça de barco,
em forma e moldes de fotografia,
ou então em um gole ao avesso,
e mesmo que caia sobre nossa cabeça.

Não pude explicá-la, meu amor,
Apenas me sentei e deixei-a entrar.
Adeus, agora se vá,
eu não conseguirei explicar mesmo.

Vamos nos abraçar na próxima data,
não precisamos pensar que existe alguém a nos observar.
É o fim, sabido ou não,
Sorte, amor e vida, palavras sem necessidade alguma.

Bernardo G.B. Nogueira Primavera,
chuva e sorte. Conselheiro Lafaiete

sábado, 22 de outubro de 2011

A propósito do sentimento em dias de chuva...

Chuvas...chuvas

Para os dias de chuva, uma reflexão,
para as noites de chuva, vinho.
Por entre suas horas, solidão,
por entre seu frio, um carinho.

Em um minuto, seria só,
noutro segundo, intenção.
Um tempo era meu, o outro, divisão,
naquelas gotas: sonhos, uma canção.

Depois da noite, nascimento,
flores, cheiros e invenção.
Do amor de noite, desespero,
manhã que nasce, oração.

Chuva no dia, visão, de noite, inspiração,
marulho bendito, ouvidos e paixão.
Entrou por ali, por longe de mim,
em meu peito um arroubo, chuvas, sonhos e o coração...

Bernardo G.B. Nogueira - dia e noite de pingos.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Aniversário de Vinícius de Moraes - 98 anos

A Vinícius que não é "de tempo"

Me parece normal que Vinícius não complete 98 anos de idade. Estas datas longevas estão muito mais ligadas a existências que se preocupam com aquilo que as horas transformadas em dias trazem. O existir poético de Vinícius não poderia ser marcado com essa violência que é o calendário. Dentre os ponteiros do segundo, esbarram os versos que captam com amor e suavidade cada vão momento. Captam o momento, não o tempo que ele gastou.

Poder-se-ia dizer que é uma pena, poder-se-ia lamentar que um poeta como Vinícius não tenha brindado o mundo com mais tempo. Mas, o tempo, este é que não podia com o poetinha. Pois a cada curva em que aquele o seguia, este o rebatia com um soneto novo, e um samba de benção para a eternidade. A prova de que um e outro não se davam era o deboche com que Vinícius se relacionava com o tempo. Debochava dele sim, e passava horas a fio a "gastar" o tempo com encontros infinitos regados a uísque, música e poesia. Uniu poesia e música e mostrou que o popular pode conviver com o erudito, mas só fora dos padrões do tal tempo.

Porque é até engraçado pensar o tempo a partir de Vinícius. Enquanto nos dias que correm estabelecemos como que uma disputa com o tempo a tentar pará-lo; Vinícius estabelecia relações amorosas com sua vida, e o amor, ah!, o amor! Este resta lançado de uma vez por todas para fora do tempo, para fora dos calendários e convenções. Aliás, é digno que se diga, este poeta cantou o amor das maneiras mais sinceras, e se um dia foi correto e fiel, foi apenas com quem de fato merece, o amor.

Na verdade, quando olhamos para as fotos e ouvimos as palavras de Vinícius, sentimos um recorte na realidade de dias e horas que nosso cotidiano nos obriga, e a partir daí, somos desde "uma menina com uma flor" até a máxima ode ao amor, fidelidade ao amor. Vinícius nos ensinou a viver de maneira a saber "ganhar dinheiro com poesia". Disse que é "melhor ser alegre que ser triste" e ainda nos ensinou a fazer a samba, com amor, cadência e tristeza.

Queria apenas uns dizeres sinceros e de muito agradecimento a Vinícius. Depois que conheci sua poesia, decidi que não haveria tempo melhor do que a atemporalidade de uma vida na poesia. Se, como nos fala Drummond "Vinícius foi o único poeta que viveu como poeta". O mínimo que devemos reconhecer é que não dá para contar os anos de Vinícius com a mortalidade que o tempo nos impõe. Que saibamos esquecer o calendário e deixar-nos entorpecer com um verso ao invés de nos prendermos ao minuto.

A propósito de formalidades, é bom saber que Vinícius se deixava chamar poetinha, chamava aos outros pelo diminutivo. É assim mesmo quando as coisas vêm de pessoas com essa vida fora do tempo. Não haveria, realmente, tempo melhor do que aquele que é criado pela poesia, a poesia que é só amor, a poesia que não quer honrarias, a poesia que se deixa ser versinho e que se escreve em "guardanapozinhos". Mas isso só sabemos depois do poetinha, "vagabundo...

que a vida não gosta de esperar..."

E me parece que já é hora de partir, este texto já gasta tempo demais, e "a vida é p'ra valer"!!!
Precisamos viver, pois como diria Pessoa, "navegar é preciso, viver não...", daí que agora entendemos que Vinícius não poderia mesmo estar preso a esse tempo, tempo tão preciso. Sua vida, verdadeira vida de poesia, não trazia a certeza necessária à navegação, rumava para mares desconhecidos que só o coração pode entender..."de repente, não mais que de repente..."

Bernardo G.B. Nogueira
19/10/2011 - 2011.

Soneto da rosa

Mais um ano na estrada percorrida
Vem, como o astro matinal, que a adora
Molhar de puras lágrimas de aurora
A morna rosa escura e apetecida.

E da fragrante tepidez sonora
No recesso, como ávida ferida
Guardar o plasma múltiplo da vida
Que a faz materna e plácida, e agora

Rosa geral de sonho e plenitude
Transforma em novas rosas de beleza
Em novas rosas de carnal virtude

Para que o sonho viva da certeza
Para que o tempo da paixão não mude
Para que se una o verbo à natureza.

Vinícius de Moraes

Café, pingos e amor...

Lá fora havia uns pingos e um tilintar,
aqui de dentro, eu observei, com olhar perdido,
um rio de amores,
cada mirada das pessoas me tomava.

Acho que era a chuva ou o cheiro do café.
Acho que era saudade saída daquela mistura.
Acho que eram pingos ou murmúrios de amor, olhares ou cheiros.
Acho que me apaixonei.

Bernardo G.B. Nogueira
(em homenagem e inspiração à uma vida em poesia)






terça-feira, 4 de outubro de 2011

Já que as estações mudam com o tempo...

estrofes de tempo...

Andei a estar acerca do tempo,
me prostrei ante suas letras,
e daí em diante, em perdimento nestas palavras,
construção de redondilhas, minutos de saudade.

Uma face alva sorria p’ra mim,
sorria, e ao se despedir, me tocava leve como um sopro,
dentro deste sonho, margens sem tempo,
leves arfar de bocas e sentimentos, nenhum momento.

Em paz, havia uma caminhada,
de mãos dadas, olhares, esquivos e uma estrada,
um encanto de flores, cheiros e uma namorada.

Os versos se criavam, letras, palavras,
cantigas doces, rimas enamoradas,
estrofes de tempo, tempo de amor, sem tempo, mais nada.

Bernardo G.B. Nogueira
Na primavera, sem sol...
Itabirito – 2011.