segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Sonhar é amar?

Impossível

“Eu amava como jamais poderia...Se soubesse como te encontrar...”

Os últimos versos da canção que a muito lhe insistia em não sair do pensamento foram o bastante para reagir diante da névoa que também insistia em cobrir seu horizonte. Estava decidido. Iria procurar. Inventar talvez...Sonhar!

As primeiras ações foram, vestir uma roupa que não despertasse nos outros qualquer fagulha do sentimento que demovia suas ações, e se despir do medo do desconhecido, precisava encontrar.

Além do cigarro que ficara por fumar, alguns rabiscos de um poema não terminado foram as últimas lembranças antes de sair.

As ruas se mostraram então indescritíveis àquela alma tomada pela busca que agora se propunha. Pareciam labirintos de um jogo que estava prestes a inventar. Os sentidos digladiavam dentro de si como numa batalha medieval, entre animal e homem.

Aqueles passos à deriva de uma busca contumaz o levavam cada vez mais para o labirinto que acabara de inventar. Não queria ir, mas a guerra dos sentidos estava a ser vencida pela possibilidade que agora o movia. Não poderia mais parar.

Os transeuntes, tais como os moinhos de vento, pareciam obstáculos a serem vencidos, não poderia perder nem um segundo com o palavrório trivial dos dias que antecediam àquele surto.

Aquela caminhada não fora pré-definida em nenhum momento. Talvez nem existisse. Por isso, a necessidade de não perder o momento, a ideia, o sonho, o sentimento.

Diante das vitrines das lojas que vendiam histórias mil, nada retirava dele o instante que estava por vir, realmente era o dia mais especial de sua existência, outrora tão vazia entre tantas outras da mesma forma.

Parou diante de alguns automóveis, poderia ser mais uma dentre tantas vezes que parava ante os automóveis. A sensação daquela caçada consumia suas entranhas com a força de um roedor astuto, era preciso fazer algo.

Aqueles automóveis se foram, levando pessoas que, como ele, também viviam a fugacidade do dia-a-dia. No entanto, algo se modificou com a partida daqueles carros. Do outro lado da rua, não havia mais aquele neon comum às vitrines, havia um espelho.

Esse encontro “narcísico” fora o bastante para interromper sua caminhada pelo labirinto que estava a criar. E num espasmo da razão vencendo a emoção, uma triste realidade se mostrara.

Agora, já ouvia os transeuntes a reclamarem, as buzinas dos automóveis a soar, o apito do policial que insistia em silvar, o latido do cachorro que insistia em lhe chamar.

Acordou (!), junto com os sons da rua, o do despertador velho herdado da mãe. Eram sete da manhã e os afazeres de mais um dia de trabalho lhe esperavam.

Não havia a namorada, não havia o amor, não havia a busca. Restava apenas, o rosto envelhecido pela decepção, os sentidos apagados por tão cruel revelação, o corpo abatido pela exaustão e a esperança encerrada por um dia ter sonhado encontrar um amor que não se pôde criar.

Amou apenas, mas, sonhou...

Bernardo G.B. Nogueira


Oswaldo Montenegro

Lua e Flor

Eu amava

Como amava algum cantor
De qualquer clichê
De cabaré, de lua e flor...

E sonhava como a feia
Na vitrine
Como carta
Que se assina em vão...

Eu amava
Como amava um sonhador
Sem saber porquê
E amava ter no coração
A certeza ventilada de poesia
De que o dia, amanhece não...

Eu amava
Como amava um pescador
Que se encanta mais
Com a rede que com o mar
Eu amava, como jamais poderia
Se soubesse como te encontrar...

Eu amava
Como amava algum cantor
De qualquer clichê
De cabaré, de lua e flor...

Eu sonhava como a feia
Na vitrine
Como carta
Que se assina em vão...

Eu amava
Como amava um pescador
Que se encanta mais
Com a rede que com o mar
Eu amava como jamais poderia
Se soubesse como te encontrar...

http://www.youtube.com/watch?v=FOcPfSbtQWs

Um comentário: