quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Um dia na cidade

Um dia na cidade

Tantos ponteiros,
tantos esteios,
tantas gentes,
tanta espera,
tantas cores,
tanta quimera,
tantas estradas,

tantas caras,
tantas cartas,
falsas,
flácidas,
fábulas.

Tantas côrtes,
tanto esquecimento,
tanta razão,
tanto dito,
tanto maldito,
tantos benditos,
tantos vadios,
tantos terrenos.

São tantos, tudo e você.
Você!
Você!
Você que não é esse ninguém.
Tanto você,
tão você,
que sou eu.
Eu que não sou.
Você que é tanto...

Bernardo G.B. Nogueira
BH – primavera, enfim.

domingo, 23 de setembro de 2012

Ode pra te receber...


Ode pra te receber...

Hoje é primavera,
vamos cheirar as pétalas,
deixar as folhas marrons,
o arco-íris nos liberta para um jardim cheio de inícios, fins e meios,
dentro dele vamos voar e cair,
o chão coberto de um cheiro que é seu.
Vós, tão esperada por todas as borboletas,
deixada pra trás por um sol que se foi,
namorada com a harmonia que é toada de joão,
de barro, a atormentar seu silêncio cheio de sinfonias amarelas e pintadas,
como um mesmo céu, que já é outro azul para iluminar canção que é só pra te receber, em sinfonia, sem arranjo nenhum,
e que é febril feito som de trombeta, mas que acalenta o mar com chuvas,
faz festa do dia sem ópera,
doce flauta, meu som, alma sentida e sem certeza...

Bernardo G.B. Nogueira
BH - primavera

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Sentidos

Sentidos
Senti seu cheiro.
Voo pleno até dentro de mim,
em silêncio branco,
insinua por entre meu enleio.

A dor espreita a fragilidade do amor,
de braços dados sorri faceira,
dúbia feito bebedeira,
forte como cachoeira.

Qual vento que traz chuva inesperada.
Retirou o chão.
Flores em revoada.

Apeteceu a meus olhos a vida de sua mirada.
Houve um parto, morte esquecida,
por entre a brisa aconteceu o amor.

Bernardo G.B. Nogueira
BH – inverno, primavera que vem...

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O homenzarrão

O homenzarrão
 
Porque tanta solidão?
Sempre há passos tortos na multidão.
Distantes dos olhos sem paixão.
Vertidos em trilhas sem direção.

Porque as lágrimas ao chão?
Se sempre tem um barulho a tilintar na escuridão.
Se de tantas cores fazem turbilhão.
Se as harmonias foram esquecidas sem precisão.

Pra quê essa incomodação?
Se há tanto cômodo sem luz.
Se há o porão?
Pra quê essa inflamação?

As lembranças podem cair.
Pode ter um dia sem alucinação.
Pode ter samba sem canção.
Pode até ter vida no caixão.

Pra quê essa lamentação?
Se até as teclas não tem fim não.
Escrevem para além da imaginação.
Sozinhas e sem proteção,

d’um coração que fala e não consegue enxergar a precisão...
...ão
ão...
...ão

Bernardo G.B. Nogueira
BH – inverno quente.

domingo, 16 de setembro de 2012

???



???

Cadê você?
Agora que eu bebi...
agora que eu te amo,
agora que eu sou poeta,
agora que eu me afogo,
agora que me pranto,
agora que eu me decanto,
agora que eu me encanto,
agora que eu me prostro,
agora que eu me mostro,
agora que eu me monstro,
agora que eu me encosto,
agora que eu acendo,
agora que eu me apago,
agora que eu me esqueço,
agora que eu me despeço,
agora que eu me alucino,
agora que eu desperto,
agora que eu me fascino,
agora que eu me tardio,
agora que eu te amo a cada fração do seu hino?

Bernardo G.B. Nogueira
Conselheiro Lafaiete - inverno

Poeta mentidor



Poeta mentidor

E eu que nem preciso do tempo,
não atendo ao telefone,
deixo no chão o cartão,
esqueço na porta a chave.

Depois que me lembrem,
antes fico a esquecer,
nem tem agenda,
nem tem amanhã.

Depois que vivo é que acordo,
o sonho traz a vida,
nem antes nem depois há ninguém.

Não ouço pelo que me chamam,
deixo passar os minutos.
Vivo! Não morro de viver!

Bernardo G.B. Nogueira

Homem e mulher...



Homem e mulher

Mas quem disse que quero a ti preso a mim?
Podes ir.
À praia,
aos amigos,
ao chopp,
à ressaca e ao que é bom.
Depois de mim,
vais.
Dá-se ao mundo,
podes se perder.
Tenho amor inteiro.
Cheio de saudade para esperar.
Todo feito de olhares, afagos a te abraçar.
Vais!
Deixa-me.
Amante e desalmado,
louco a te inventar,
Vais!

Bernardo G.B. Nogueira
Conselheiro Lafaiete – inverno.

Azul



Azul

Porque  azul?
Mar azul.
Infinito azul.
Distinto azul.
Bebida azul.
Queda azul.
Anjo azul.
Drink azul.
Rosa azul.
França azul.
Mulher azul.
Sol azul.
Sonho azul.
Claridade azul.
Cinema azul.
Azulejo azul.
País azul.

- Amor:
És azul....

Bernardo G.B. Nogueira
Conselheiro Lafaiete - inverno

sábado, 15 de setembro de 2012

Em pedaços...



Em pedaços

Quantas idiossincrasias transbordam de mim,
salta feito águia em precipício,
qualquer atrito resta esquecido,
em rastros imaginários que criam alvorecer.

Caçada insana frente ao inimigo,
em guerra fecunda de cores,
surgem dum rosto inscrito em flores,
voam pelo ar como rajadas de sol.

Ficou em carne viva esse som,
recitado em versos de tom maior,
monossílabos que diziam o mundo.

Cada pegada foi um pedaço que ruiu,
como as folhas que rolam pelos galhos,
fui noite fria que entranhou em seus olhos.

A noite daquela enchente lavou meu peito,
desnudou a face e trouxe o canto novo,
a poeisa ficou pronta quando sai de mim,
as rimas agora estão todas feitas.

                                   Palavras candentes de uma tempestade que não caiu,
  partiu.

Bernardo G.B. Nogueira
BH – inverno velho e novo.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Pequena fala de devoção...

Pequena fala de devoção...

De tudo que é porvir,
deixa que eu invento,
chuva em dia seco, invento,
noite em tarde triste, invento,
chocolate pra dia só, invento,
harmonia pra dia de "chico", invento,
chegada pra dia de saudade, invento,
vinho pra letras sem inspiração, invento,
cobertor pra dia inteiro no quarto, invento,
sombra fresca pra fugir do agreste, invento,
fantasia pra vida sem cor, invento,
olhar sincero pra gente que não vê, invento,
abraço forte pra curar do frio, invento,
chuva cálida pra molhar a face, invento,
fruta doce pra curar ressaca, invento,
café forte pra animar a prosa, invento,
mentira pra inventar sorriso, invento,
poesia pra que você exista...

Bernardo G.B. Nogueira
BH - inverno e invento

domingo, 9 de setembro de 2012

O que me tornar?


O que me tornar?

Hoje eu falei com pessoas do meu passado,
talvez eu nem me reconheça mais,
são tantos passados que o presente me falta
palavras ficaram por serem ditas, o presente nasceu assim.

Os rastros de mim restaram nestes semblantes que encontraram,
encenaram encontros fortuitos esquecidos pelo vento,
a figura que ali se montava era eu e nós,
impossível não o ser, o ser que nos cria e mata.

Cada timbre foi um estermínio de minha parca memória,
o parto daquelas palavras ressoaram em minha estrada,
a porteira que batia lá atrás cuidava das próximas curvas.

Defronte ao abismo caiam risos e lágrimas,
abraços perdidos e outra face apunhalava meu futuro,
era eu a nascer entre a gente que me lembrava o quanto eu não fui.

Bernardo G.B. Nogueira
BH – inverno e noite.

sábado, 8 de setembro de 2012

Nascer da primavera


Nascer da primavera

Então venha p’ra cá,
desnuda e sincera,
com peias ao vento,
sem amarras desatento.

Assim como o vento sem curva,
de pés descalçados,
sorriso na proa,
tez insegura.

De armas providas de flores,
rosas imensas em louvores,
corpos e sabores.

A rolar pela vida,
caída e recriada,
cada olhar fez namorada.

Bernardo G.B. Nogueira
Conselheiro Lafaiete

Sair de um lugar...

Sair de um lugar...

Sei que me deixaste ali,
com o sol, o vento, e a fumaça,
roto em sentimento, mas esperaste,
na forma do trilho sem fim, ali.

Com rota a ermo,
frio e calorento,
sentinela sem tormento,
dormente feito incenso.

Saido de minha paz,
esquecido de minha voz,
machucado e sem foz.

Uma faca modelou a face, ali,
despedida em semblante sem sombra,
antes que a estação partiste, ali.

Bernardo G.B. Nogueira
BH - inverno

domingo, 2 de setembro de 2012

Animal




Animal

Não te atrevas ao silêncio,
preciso do seu timbre,
anseio o toque, do seu paladar.
Todos sem pudor.

Não te deixe acuar.
Crave os dentes.
Enrijeça a luta.
Em nada recue.

Tenha em sua fronte um sorriso infinito,
faça pulsar toda magia,
entregue o corpo, salte sem ver atrito.

Depois que as faces estiverem nuas,
o excesso irromper do escuro,
um brinde será regado de amor,
                                                  até entornar.

Bernardo G.B. Nogueira
Conselheiro Lafaiete – inverno.