domingo, 31 de julho de 2011

LOPE DE VEGA

Rendo aqui minha tardia homenagem a Lope de Vega. Poeta que tive acesso a poucos dias e que, de pronto, encantou.
Fantástico!!!

Файл:Lope de Vega (M. Fuxà) Madrid 01.jpg

DESMAYARSE, ATREVERSE, ESTAR FURIOSO

"Desmayarse, atreverse, estar furioso,
áspero, tierno, liberal, esquivo,
alentado, mortal, difunto, vivo,
leal, traidor, cobarde, animoso,

no hallar, fuera del bien, centro y reposo,
mostrarse alegre, triste, humilde, altivo,
enojado, valiente, fugitivo,
satisfecho, ofendido, receloso.

Huir el rostro al claro desengaño,
beber veneno por licor süave,
olvidar el provecho, amar el daño;

creer que un cielo en un infierno cabe,
dar la vida y el alma a un desengaño:
esto es amor. Quien lo probó lo sabe."


"Desmaiar-se, atrever-se, estar furioso,
áspero, terno, liberal, esquivo,
alentado, mortal, defunto, vivo,
leal, traidor, covarde e valoroso;


não ver, fora do bem, centro e repouso,
mostrar-se alegre, triste, humilde, altivo,
enfadado, valente, fugitivo,
satisfeito, ofendido, receoso;


furtar o rosto ao claro desengano,
beber veneno qual licor suave,
esquecer o proveito, amar o dano;


acreditar que o céu no inferno cabe,
doar sua vida e alma a um desengano,
isto é amor; quem o provou bem sabe."


SONETO DE REPENTE

"Um soneto me pede Violante,
nunca na vida estive em tal aperto;
quatorze versos dizem que é soneto:
brinca brincando lá vão três avante.

Não pensei que encontrasse consoante,
e na metade estou de outro quarteto;
mas, se me vem o início de um terceto,
cá nos quartetos nada há que me espante.

No primeiro terceto vou entrando,
e parece que entrei com o pé direito,
pois fim com este verso lhe vou dando.

Estou já no segundo, e ainda suspeito
que vou os treze versos acabando;
contai se são quatorze, e ei-lo: está feito."


domingo, 24 de julho de 2011

É possível não ser escritor?

Desistiu de ser escritor

Desistiu de ser escritor. Agora já não mais interessava toda aquela parafernália de obras póstumas de autores consagrados. Nem foram consagrados por ele mesmo.

Aquela bagunça de pensamentos que envolve o sem fim de ideias que ao escritor não cansam de tirar o sono, nunca mais! Não queria mais decifrar os olhares, se apaixonar pelos perfumes, enxergar o não visto, não. Ser sutil, nunca mais.

Decidido, caiu em um mar de certezas. Certeza de que sua escrita não mais seria criticada. Certeza de que sua vida não mais seria destrinchada. Certeza de que aqueles elogios vagos de seus leitores não mais iriam comovê-lo. Decidiu-se por sua vida, pelo menos assim pensou.

Nessa batida do coração, foi ao encontro da nova vida que agora lhe esperava. Que alívio(!), não precisaria mais se perder ao observar os casais apaixonados e dizer sobre o amor, ou a falta dele. A natureza, que por vezes lhe fazia suspirar em poemas inspirados, agora serviria apenas para agradar o olfato dentro da cidade poluída. E a angústia, «ah»(!), esta seria a melhor parte, nem seria percebida, ora, a partir de então, ela não mais seria sua cúmplice na tentativa de desvendar o que fazia seu coração e corpo palpitarem, dançarem músicas antes não escutadas...adeus à estrela bailarina nietzschiana!

Parecia que naquele dia estaria a re-viver. Sentimento estranho a alguém que estava acostumado aos clarões da noite. O dia passava inerte enquanto esperava o novo laivo de torpor para tornar-se escritor e todo aquele processo lhe tomar os sentidos: Sentir, quase transpirar... medo, angústia, e depois, a folha em branco a rir de sua face tresloucada pelo susto que as novas ideias lhe trariam.

Sentiu um enorme conforto com essa decisão. O humor não mais seria um ponto de partida para nenhum escrito. Seria apenas humor, ou mau humor. O gosto, tantas vezes elogiado ao referir-se a cousas interessantes em seus escritos, não mais seria notado, poderia apenas não pratica-lo. E aquilo que chamavam sensibilidade de poeta, poderia agora até mesmo fazer chacota, poderia ser uma pedra! Aquele olhar “clínico” que só escritor tem, «hahaha», deixaria agora para os doutores...decidiu não ser mais escritor. E as belas palavras que compunham seu vasto repertório lírico de poemas, agora poderiam ser usadas para preencher uma sopa de letrinhas que compraria na banca que só vendia o jornal que só falava de coisas triviais. Não precisaria mais criticar aquele jornal trivial, agora não era mais escritor.

Que privilégio(!), pensou. Agora eu posso passar pelas ruas sem que as virtualidades de cada sujeito se transformem em uma história épica em minha larga imaginação. Poderia me concentrar em viver. Viver sem que cada momento pudesse ser fotografado pela lente do escritor e depois revelado em um texto qualquer.

Depois de haver se decidido por não mais ser escritor sentiu a liberdade que antes as palavras lhe roubavam. Sentiu a paz que os brados dos pensamentos não lhe davam.

Sentiu também, saudade do tempo que perdeu a escrever. Sentiu vontade de escrever que não deveria ter escrito nada. Percebeu que não podia deixar de sentir. Percebeu que quando voltasse ali não seria mais ele. Não seria escritor. Sentiu vontade de estar ali novamente. Sentiu vontade de novo. Sentiu vontade de escrever sobre quem ele havia se tornado quando deixou de ser escritor.

Sentiu vontade de escrever...

Bernardo G.B. Nogueira

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Nunca as palavras de Pessoa me foram tão reais: "Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade. Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer"



O livro "Dois olhares sobre Florbela Espanca" acaba de ficar pronto...agora são aquelas fases das quais prefiro me manter bem distante, talvez pelo excesso de "ãos"... revisão, diagramação...impressão.

É um projeto em que ganhei de várias formas: Primeiro um amigo, que foi meu parceiro no livro, o músico, poeta Marcos Assumpção. Depois, ganho o sentimento de Florbela em mim, e que tentei deixar sair em minhas palavras, claro que não consegui. Mas, como considero esse livro um ponto de partida, está tudo certo. Mantenho minha parceria com meu amigo Ramon Mapa da Silva, que escreveu uma apresentação da qual minhas palavras não são dignas, vocês verão. Tem ainda um retorno ao Portugal que ainda me enche de saudades. Noites em que renasci. Noites de insônia, regadas a música, poesia, romance, sonhos, amores, palavras, palavras, palavras... e algumas boas doses de vinhos e uísque. Tem, principalmente, as pessoas que escreveram esse livro comigo, com seus olhares, seus sentimentos, suas críticas, aliás, essa construção do projeto, e do outro, é o mais importante ao fim de tudo.

Vejam esse link, dá acesso ao site do Marcos Assumpção. Lá poderão ver o cd "A flor de Florbela" - que deu origem à nossa saga por entre Florbela Espanca:
http://www.marcosassumpcao.com.br/


Em Agosto o livro sai publicado com palestras e lançamentos a serem divulgados a contento. O que senti quando encerrei o livro está aí nesse pequeno poema:

o FIM...

está aí,
a réstia de inspiração,
a réstia de Florbela,
a réstia de sonhos,
a réstia de coração.

está aí,
o fardo de minha vida,
minha vida de ilusão,
o fogo do meu corpo,
meu corpo de paixão.

está aí,
o cadáver do meu coração,
o cadáver da minha paixão,
o cadáver que me fez pó,
o cadáver de minha inspiração.

está aí,
a morte de minhas letras,
a vida d'outra canção,
a morte dos pensamentos,
a vida viva, um turbilhão.

está aí,
bem na sua frente,minha vida em mostração,
bem na sua frente, meu peito ávido de emoção,
bem na sua frente, minha maldita entonação,
bem na sua frente, todo meu amor, em forma de canção.

Bernardo G.B. Nogueira - inverno - Conselheiro Lafaiete